ALEITAMENTO MATERNO E A OFERTA DE CHÁS ENTRE OS POVOS INDÍGENAS DE ALAGOAS
Chás de ervas, Aleitamento Materno, Nutrição do lactente
No Brasil, a grande biodiversidade apresenta um enorme potencial para as práticas fitoterápicas, cujo uso no tratamento de doenças reflete influências africanas, indígenas e europeias. Entre essas práticas destaca-se a oferta de chás a crianças < 24 meses. No entanto, é importante questionar em que medida essa oferta pode ser considerada terapêutica, especialmente diante dos comprovados benefícios da amamentação para a saúde, sobrevivência e desenvolvimento infantil, que deve ser incentivada, protegida e exclusiva até os seis meses de vida da criança. A presente dissertação visa contribuir com essa discussão. Para isso, encontra-se dividida em dois capítulos, sendo um de revisão da literatura e um artigo original. A revisão aborda aspectos da diversidade cultural dos povos indígenas a nível local e mundial, os benefícios do aleitamento materno e sua pequena, porém constante e crescente evolução ao longo dos anos, e a oferta e consumo de chás de ervas pelos povos tradicionais e demais populações no Brasil e no mundo. O artigo original tem por objetivo determinar a prevalência de aleitamento materno e analisar fatores associados à oferta de chás em crianças indígenas < 24 meses. Trata-se de um estudo observacional, transversal de base populacional, do tipo inquérito domiciliar, integrado a um projeto maior intitulado “Estudo de Nutrição, Saúde e Segurança Alimentar dos Povos Indígenas do Estado de Alagoas – ENSSAIA”. Para compor o universo amostral, foram contempladas todas as 11 etnias existentes no Estado de Alagoas, e a coleta de dados foi realizada através de visitas domiciliares, utilizando-se de formulários semiestruturados próprios e previamente testados em estudo piloto. Foram investigadas 124 crianças menores de 24 meses. A prática de aleitamento materno foi observada em 121 famílias, sendo o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade, praticado por apenas 7 famílias (5,83%), enquanto o aleitamento predominante teve prevalência de 92,6% e o aleitamento materno de 99,2%. Cerca de 73% (n=91) das crianças consumiram chá em algum momento da vida. A erva mais utilizada para chá foi a Camomila, seguido da Hortelã-da-folha-miúda. A oferta foi realizada, na sua maioria, às crianças na idade inferior a seis meses com a finalidade de tratar distúrbios do sistema gastrointestinal. A elevada prevalência do consumo de chás por crianças, especialmente nos primeiros seis meses de vida, revela uma prática profundamente enraizada nas tradições locais. Porém, esse hábito contrasta com as diretrizes nacionais e internacionais que recomendam o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade.