Acurácia de indicadores antropométricos na identificação do risco cardiovascular: Estudo de base populacional com mulheres Indígenas de Alagoas
Antropometria; Doenças cardiovasculares; Saúde da população indígena; Fatores de risco.
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo. Indicadores antropométricos têm sido usados com boa acurácia para predizer risco cardiovascular (RCV), dada a facilidade de obtenção dessas medidas. Contudo, não há estudos que identifiquem o melhor preditor para mulheres indígenas de Alagoas. Este estudo objetivou identificar o indicador antropométrico de maior acurácia para discriminar RCV em mulheres indígenas de 19 a 59 anos, das 11 etnias que vivem em 29 comunidades no estado. Trata-se de inquérito domiciliar transversal de base populacional. O desfecho foi o risco cardiovascular definido pelo Escore de Framingham, considerando variáveis clínicas e bioquímicas. Os indicadores analisados foram IMC>30kg/m2, circunferência da cintura (CC>80cm), razão cintura-estatura (RCEst≥ 0,50) e índice de conicidade (IC>1,40). A amostra final foi constituída por 957 mulheres. A prevalência de alto risco cardiovascular foi de 44,8%. A obesidade foi diagnosticada em 341 (35,7%) mulheres, sendo que 64,9% tinham CC elevada e 70,1% RCest acima de 0,5. Dentre estas mulheres, 15 delas (1,6%) apresentaram IC elevado.Todos os indicadores antropométricos apresentaram associação significante com o alto risco cardiovascular. A RCEst mostrou a maior razão de prevalência (RP=2,56; IC95%: 2,02–3,23), seguida da CC (RP=2,06; IC95%: 1,67–2,45), enquanto o IMC (RP=1,45; IC95%: 1,27–1,67) e o IC (RP=1,66; IC95%: 1,21–2,27) apresentaram associações de menor magnitude. Nas curvas ROC, todos os indicadores tiveram boa capacidade discriminatória, sendo o IC o mais acurado (AUC=0,7533), seguido da RCEst (AUC=0,7212) e da CC (AUC=0,6892), enquanto o IMC teve pior desempenho (AUC=0,6224). Na análise do índice de Youden, o IC também se destacou, com ponto de corte de 1,18, sensibilidade de 77%, especificidade de 66% e maior valor de J (0,422), confirmando-o como o melhor preditor nessa população. Evidenciou-se que o IC foi o indicador antropométrico mais fortemente associado ao risco cardiovascular em mulheres indígenas alagoanas, evidenciando seu potencial como ferramenta prática para rastreamento populacional.