Fatores associados à prevalência de Transtornos Mentais Comuns em mulheres indígenas do estado de Alagoas: Estudo transversal de base populacional
Transtornos Mentais, Saúde Mental, Povos Indígenas, Mulheres, Saúde de Populações Indígenas
Introdução: Desde o período da colonização, os povos indígenas no Brasil enfrentam cenários de luta e de vulnerabilidade no que se refere às condições de saúde. Entre essas questões, destacam-se os indicadores relacionados à saúde mental, particularmente os Transtornos Mentais Comuns (TMC), amplamente estudados na população em geral. Os TMC englobam principalmente duas categorias diagnósticas: transtornos depressivos e transtornos de ansiedade, ambos com impacto expressivo no humor ou nas emoções dos indivíduos afetados. Essas condições têm o potencial de provocar consideráveis perdas funcionais e de saúde. A realização deste estudo justifica-se pela necessidade de pesquisas voltadas aos povos originários, historicamente submetidos a maior vulnerabilidade. Essa situação se agrava no contexto de mulheres indígenas, sobretudo aquelas da região semiárida do Nordeste brasileiro. O estado de Alagoas, em particular, destaca-se como um dos mais pobres do país, o que intensifica ainda mais os desafios enfrentados por essas populações. Objetivo: Identificar os fatores associados à prevalência de Transtornos Mentais Comuns em mulheres Indígenas do estado de Alagoas. Material e métodos: Estudo transversal, de base populacional, do tipo inquérito domiciliar, realizado em comunidades indígenas distribuídas entre as 11 etnias existentes no Estado de Alagoas; para cada uma dessas, uma comunidade fora definida por sorteio simples a fim de compor a amostra. Eram elegíveis todas as mulheres de 20 a 59 anos residentes em todos os domicílios das comunidades sorteadas. A coleta de dados (antropométricos, socioeconômicos, demográficos, de saúde e de segurança alimentar) ocorreu por meio de visitas domiciliares utilizando-se formulários semiestruturados previamente testados em estudo piloto. A variável dependente foi definida com base na aplicação do instrumento de triagem denominado Self Report Questionnaire (SRQ-20). Os dados foram digitados em dupla entrada independentes em formulários gerados no software Epi Info, versão 3.5.4. Para a análise estatística, utilizou-se o software Stata®. A medida de associação foi a razão de prevalência (RP) e seu intervalo com 95% de confiança (IC95%), calculados por regressão de Poisson com ajuste robusto da variância. A análise multivariável seguiu modelo teórico hierarquizado. A significância estatística foi assumida quando p≤0,05. Resultados: A amostra foi composta de 937 mulheres. A prevalência de TMC foi de 45,3% (n=424), a qual, após análise ajustada, apresentou associação independente com as seguintes condições: escolaridade inferior a nove anos de estudo (RP=1,22; IC95%=1,04-1,42; p=0,011), não ter filho(s) com idade inferior a cinco anos (RP=1,21; IC95%=1,01-1,45; p=0,036), ter tido COVID-19 (RP=1,30; IC95%=1,09-1,54; p=0,003), insegurança alimentar leve (RP=1,25; IC95%=1,01-1,57; p=0,049), insegurança alimentar moderada (RP=1,59; IC95%= 1,25-2,02; p<0,001) e insegurança alimentar grave (RP=2,20; IC95%=1,76-2,75; p<0,001). Conclusão: Existe alta prevalência de TMC em mulheres indígenas de Alagoas. Espera-se que as informações produzidas fomentem uma maior mobilização da sociedade, profissionais e gestores de políticas públicas, para a implementação de ações de prevenção e tratamento desse agravo entre a população feminina das comunidades indígenas de Alagoas.