PERFIL GENÔMICO DE MULHERES INDÍGENAS DE ALAGOAS COM ALTERAÇÕES GLICÊMICAS: ESTUDO EXPLORATÓRIO DO POLIMORFISMO c.329C>T DO GENE SLC2A2
Palavras-chave: Polimorfismos; GLUT2; diabetes tipo 2; saúde indígena; epidemiologia
Introdução: Povos indígenas no Brasil, incluindo os de Alagoas, têm vivenciado rápidas transformações socioculturais e alimentares que impactam sua saúde, evidenciando um aumento de doenças metabólicas. Inserido nesse contexto de transição nutricional e vulnerabilidade epidemiológica, este estudo exploratório teve como objetivo investigar o perfil genômico de mulheres indígenas de Alagoas com alterações glicêmicas, com foco no polimorfismo c.329C>T do gene SLC2A2.
Método: Trata-se de um estudo exploratório, transversal, realizado no contexto do Estudo de Nutrição, Saúde e Segurança Alimentar dos Povos Indígenas de Alagoas (ENSSAIA). Utilizou-se amostra de conveniência de 102 mulheres indígenas, com coleta de dados clínicos, laboratoriais, antropométricos, comportamentais e genéticos. O critério de inclusão foi ter se submetido ao teste de hemoglobina glicada (HbA1c). A genotipagem foi realizada por qPCR e as diferenças das frequências foram comparadas quanto à significância estatística com o teste qui-quadrado.
Resultados: A frequência dos genótipos foi de AA (6,9%), GA (36,3%) e GG (56,9%). A análise de associação entre os genótipos e níveis elevados de HbA1c (>6,5%) demonstrou significância estatística (p=0,022), sugerindo que a distribuição dos genótipos não é homogênea entre os grupos com diabetes e pré-diabetes. Também foi identificada associação significativa com a condição hipertensiva (p=0,022), bem como com o tabagismo recente, indicando que fatores genéticos podem interagir com comportamentos e condições de saúde dos indivíduos. As demais variáveis (perfil lipídico, excesso de peso, obesidade abdominal e etilismo) não apresentaram associação com os genótipos. A elevada prevalência de excesso de peso (89,2%), obesidade abdominal (86,3%) e dislipidemias reflete o avançado estágio do processo de transição nutricional nessas comunidades.
Conclusão: Conclui-se que o polimorfismo c.329C>T do gene SLC2A2 pode estar relacionado a fatores de risco cardiovascular, como diabetes e hipertensão, em mulheres indígenas. No entanto, a ausência de associação com outros marcadores clínico-metabólicos sugere a predominância de influências ambientais e comportamentais, reforçando a necessidade de ações de saúde que integrem aspectos genéticos, socioculturais e alimentares. Este é o primeiro estudo a investigar essa variante genética em mulheres indígenas de Alagoas, contribuindo para a compreensão das desigualdades em saúde e a construção de políticas públicas mais equitativas sensíveis à diversidade biológica e cultural desses povos.