DESEMPENHO DIAGNÓSTICO DE TÉCNICAS CONVENCIONAIS E DE BIOLOGIA MOLECULAR NA IDENTIFICAÇÃO DE ENTEROPARASITOS EM AMOSTRAS CLÍNICAS EM UMA REGIÃO ENDÊMICA
Diagnóstico; Microscopia; qPCR; Análises clínicas.
As enteroparasitoses seguem sendo um desafio relevante para a saúde no Brasil, sobretudo em áreas endêmicas do Nordeste onde a infraestrutura sanitária ainda é precária e a exposição a agentes infecciosos, constante. No contexto diagnóstico, os métodos coproparasitológicos diretos baseados na visualização de estruturas parasitárias por microscopia óptica são amplamente empregados, o que limita a detecção, principalmente em infecções de baixa carga parasitária, ou a diferenciação de agentes, quando esses são morfologicamente semelhantes. Apesar dos avanços recentes e da expansão de métodos moleculares aplicados no contexto de identificação de diversos agentes patogênicos, ainda é incipiente a sua aplicação para o diagnóstico clínico de parasitos intestinais, pois há limitantes técnicos, estruturais e de custo. A implementação de técnicas moleculares no SUS é recomendada por órgãos nacionais e internacionais, mas a realidade brasileira ainda é marcada pelo predomínio do diagnóstico microscópico, especialmente em doenças negligenciadas como as enteroparasitoses. Diante desse cenário, este estudo objetivou comparar o desempenho diagnóstico de técnicas coproparasitológicas convencionais (microscopia por sedimentação espontânea - HPJ, centrifugo-sedimentação de Ritchie e coloração por Safranina/Azul de Metileno) e do método molecular (qPCR) na detecção de enteroparasitoses em amostras fecais provenientes de um laboratório público em Maceió, Alagoas. Foram analisadas 165 amostras de pacientes submetidos a ambas as abordagens diagnósticas. A qPCR demonstrou maior sensibilidade na identificação de protozoários, detectando percentuais superiores aos da microscopia para Giardia duodenalis (10,91% vs. 10,30%), Entamoeba histolytica (7,88% vs. 4,85%), Dientamoeba fragilis (4,85% vs. 0%) e Blastocystis hominis (25,45% vs. 0%). Para helmintos, as prevalências encontradas por qPCR foram próximas às da microscopia: Strongyloides spp. (1,82%), Ancylostoma spp. (1,21%), Ascaris spp. (1,21%) e Necator americanus (1,82%). As sensibilidades da microscopia variaram de 88,9% (G. duodenalis) a 0% (D. fragilis e B. hominis) para protozoários, e de 100% (Ascaris spp.) a 33,3% (Ancilostomídeos) para helmintos, com especificidade acima de 99% para todos os parasitos. A acurácia global da microscopia foi de 97,1%, mas a sensibilidade geral ficou em 34%. Esses achados evidenciam que, enquanto a microscopia segue como método específico, acessível e de baixo custo para áreas de poucos recursos, a qPCR amplia substancialmente a capacidade de detecção de protozoários intestinais, especialmente em infecções subclínicas ou poliparasitárias. Para helmintos, ambas as técnicas apresentaram desempenho semelhante. A principal limitação para adoção ampla dos métodos moleculares permanece sendo o custo operacional e a necessidade de infraestrutura. Conclui-se, portanto, que a integração de métodos convencionais e moleculares representa uma estratégia complementar recomendada para o diagnóstico de enteroparasitoses, otimizando a vigilância epidemiológica e o controle dessas infecções no SUS, em especial em áreas de alta endemicidade, ao reduzir subnotificações e aprimorar os programas de saúde pública.