Família, Facção e Estado: um estudo sobre sobrevivência nos cárceres alagoanos.
Prisão; Familiares de sobreviventes do cárcere; Direitos Humanos
Esta dissertação busca compreender como familiares e pessoas encarceradas constroem estratégias de sobrevivência dentro e fora das prisões. A pesquisa baseia-se em uma etnografia realizada durante minha atuação como membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/AL, na qual observei interações entre familiares, pessoas privadas de liberdade e instituições do sistema penitenciário. Destaco o papel central das mulheres na manutenção da sobrevivência de filhos e maridos no cárcere, mediando o acesso a melhores condições de vida por meio de negociações com agentes estatais, facções criminosas e a própria Comissão de Direitos Humanos. Essas mulheres não apenas reivindicam direitos básicos, como transferências e cuidados médicos, mas também atuam na organização dos mercados ilegais que operam dentro e fora das prisões, além de mediar relações de poder entre facções e a administração penitenciária. A dissertação está estruturada em três capítulos. O primeiro analisa a transformação das formas de proteção no cárcere com a ascensão das facções e a redefinição das relações de poder entre o dentro e o fora. O segundo capítulo investiga as trajetórias dessas mulheres como intermediárias entre a prisão e a sociedade, evidenciando a construção de um sistema de sobrevivência familiar. O terceiro capítulo examina a construção e o rompimento de alianças entre mulheres, com a Comissão de Direitos Humanos e entre si, especialmente quando tais alianças se mostram ineficazes na manutenção de suas posições hierárquicas ou no acesso a mercados ilegais.