Indígenas mulheres fazendo cidade: um estudo a partir de trajetórias individuais, Garanhuns – PE (1991-2024)
Indígenas Mulheres; Trajetórias de vida; fazer cidade; Garanhuns – PE.
A presente pesquisa surge de um quadro perenemente colonizador e o reescreve analiticamente por meio das ações e pensamentos das sujeitas políticas e epistêmicas indígenas. É pelos itinerários individuais que desfaço narrativas hegemônicas, não apenas escrevendo sobre indígenas mulheres na história, mas, conjuntamente, perseguindo suas inscrições. Tendo em vista que a relação indígena-cidade constitui tema pouco explorado nos domínios historiográficos – onde se observa resquícios das “teorias” assimilacionistas, integracionistas e aculturalistas, criando molduras estereotipadas que nega a existência indígena na urbis –, focalizo as experiências citadinas de três indígenas mulheres que vivem nos arredores de Garanhuns – PE, Kûnã Kambiwá, Ana Clara Xukuru do Ororubá e Ana Beatriz Pankará. Desta forma, para além de subverter proposições hegemônicas, intenciono analisar, contra-hegemonicamente, as dinâmicas sociopolíticas instituídas pelo fazer cidade das indígenas mulheres. Trata-se de apreender as estratégias de resistência que transforma a “Suíça Pernambucana” em “aldeia”. Para tanto, estabeleço diálogos teóricos com os campos da Nova História Indígena (Almeida, [2003] 2013; Cunha, 1992; Monteiro, [1994] 2022) e da História das Mulheres e das relações de gênero (Perrot, 2005; Scott, 1995; Sampaio, 2021), além de vertentes das epistemologias feministas críticas de Abya Yala (Aimará Paredes, 2013; Lugones, 2020; Segato, 2021). No que tange aos aspectos metodológicos, busquei subsídios na interface entre a micro-história de base indiciária (Ginzburg, 1989; Revel, 1998), a História Oral (Alberti, [2013] 2021; Meihy, 2005) e nas epistemologias críticas oriundas da produção intelectual de indígenas mulheres (Maori Smith, [1999] 2018; Pankararu Ramos, 2019), visando descolonizar os instrumentos de pesquisa. A perspectiva de protagonismo indígena, desenvolvida pela Nova História Indígena, bem como a crítica da colonialidades de gênero, oriunda dos feminismos de Abya Yala, foram fundamentais à análise, pois propiciaram compreender o movimento pelo qual as indígenas mulheres protagonizam suas histórias; nas cidades, não somente habitam, como, de igual modo, preenchem-na de significados. As fontes consultadas, não obstante fragmentadas, são abundantes, no escopo documental se encontra produções acadêmicas, entrevistas, textos jornalísticos, imagens, dados estatísticos e etc.