Representações: Identidade e Alteridade na Crónica de Castilla (Séculos XIII – XIV)
Representações, Identidade e Alteridade
Este trabalho se ocupa em investigar as representações identitárias e de alteridade que são tecidas na Crónica de Castilla, bem como as consequências sociais que tais representações suscitam, entendendo-as assim como CHARTIER (1991, 2002) as concebe. Essas representações, que são classificações, divisões e delimitações organizadoras das apreensões possíveis do real, nunca são neutras e são responsáveis por justificar um determinado projeto de sociedade: neste caso, o de uma sociedade cristã e castelhana harmônica. Nossa escolha pela Crónica de Castilla, obra historiográfica composta por ordem da rainha regente Maria de Molina na virada dos séculos XIII e XIV, se explica por esta crônica ter revolucionado, a seu tempo, a tradição historiográfica vigente até então. A Crónica constitui uma ruptura com o modelo alfonsino, reconhecido por suas pretensões de fortalecimento do poder régio e da figura do monarca, por ceder um espaço considerável em sua narrativa aos feitos de outros grupos sociais que não exclusivamente a realeza. Nosso objetivo é apreender, dentro deste universo de representações que é construído na Crónica, o que os grupos dominantes em Castela e Leão dos séculos XIII e XIV, responsáveis por encomendar a obra, diziam sobre si mesmos, como se viam e como gostariam de ser vistos por seus pares. Contudo, como SILVA (2014) explica, este processo de formação identitária só se constrói em oposição a outras identidades: identidade se constrói necessariamente ao mesmo tempo que a alteridade. Portanto nos interessa também entender como esses grupos privilegiados da sociedade castelhana representaram o mouros, o grande Outro histórico, contra quem combateram por séculos, que vivia ao sul, e quais as relações entre essas duas construções identitárias.