Uma clínica a posteriori: os efeitos da pandemia na transferência
Transferência, atendimento online, virtualidade.
A pandemia da COVID-19 trouxe com ela muitas mudanças. Com a interrupção dos encontros presenciais e as novas configurações de sofrimento, os psicanalistas encontraram maneiras de sustentar o atendimento clínico. Frente às condições precárias e de instabilidade social, o atendimento virtual revelou-se uma alternativa na prática clínica atual. A pesquisa privilegia as novas modalidades de atendimento, tendo como objetivo analisar os efeitos da virtualidade e das tecnologias de comunicação na transferência. A internet muda a forma de amar? Quais são os efeitos da virtualidade no amor de transferência? A questão repousa não sobre a possibilidade da operação da transferência, e consequentemente dotrabalho analítico acontecer de forma online; tampouco priorizar uma modalidade em detrimento da outra, mas explicitar as particularidades da transferência na psicanálise virtual. Para isso, será realizada uma pesquisa teórica em psicanálise, a qual refere-se a transferência como motor da experiência analítica. Diante da impossibilidade de transpor elementos da sessão para o online, interroga-se sobre a “presença do analista” nesse contexto. Partimos da distinção da transferência amorosa entre Freud e Lacan – da relação imaginária ao sujeito suposto saber lacaniano, bem como da diferença entre ausência dos corpos e a presença do analista. Será analisado em que medida a presença/ausência do corpo pode influenciar a prática analítica e o manejo da transferência; considerando que para a psicanálise o corpo não é o organismo, mas um corpo constituído por significantes. Para isso, realizaremos uma revisão de literatura para compreender as especificidades encontradas nesses atendimentos e na operação da análise. Os resultados parciais, obtidos do levantamento bibliográfico, indicam a função da presença do corpo no estabelecimento da transferência, mas também demarcam que apesar do corpo apresentar possibilidades de intervenção no manejo clínico, não é a sua presença que garantirá a instauração da transferência. Sua condição está alojada na relação do sujeito com o Outro, em especial na clínica, o Outro suposto saber.