O corpo Trans: um estudo a partir da psicanálise lacaniana
Corpo Trans. Corpo próprio. Autobiografia. Psicanálise. Lacan.
A orientação de Lacan é a de que se alcance no horizonte a subjetividade da época. Nesse sentido, considera-se que o corpo é o enigma sempre posto no horizonte da psicanálise - desde a sua criação com Freud. Na contemporaneidade, o corpo ganha outros contornos com a incidência dos corpos LGBTQIA+ e suas implicações tais como a violência, a marginalização, as novas formas de subjetivação e sofrimento e a luta política. Por conseguinte, novos desafios são colocados aos psicanalistas da época. Diante disso, a presente pesquisa teve como objetivo investigar o estatuto do corpo Trans a partir da psicanálise lacaniana. A fim de alcançar esse propósito realizou-se a leitura de autobiografias de pessoas Trans e a revisão de literatura. A leitura das autobiografias possibilitou a elaboração de algumas indagações sobre os corpos Trans, são elas: (1) um corpo outro no espelho?; (2) o que há entre sexo e sexualidade?; (3) os espelhos são os outros?; (4) existe completude?; e, por fim, (5) Onde se localiza a violência?. A busca na literatura científica teve como intuito identificar o lugar ocupado pelos corpos Trans nas pesquisas em psicanálise nos últimos seis anos. Para isso, voltou-se ao levantamento de estudos em bases de dados nacionais - Biblioteca Virtual em Saúde, Periódicos Capes e Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações -, o qual resultou em 11 documentos a serem analisados de maneira aprofundada considerando a leitura interpretativa dos textos. A discussão foi constituída a partir de quatro eixos temáticos intitulados: (1) modificações científico-tecnológicas no corpo Trans-próprio; (2) identidade e identificação; (3) o corpo e sua constituição em (dis)curso; e, (4) o corpo entre estruturas. A investigação possibilitou afirmar que o corpo Trans é o corpo próprio o qual, por conseguinte, encontra-se nas bordas da sexuação e inscreve-se na impossibilidade de fazer existir a relação sexual o que, portanto, não o retira do mal-estar. Constatou-se também que a concepção do termo “Trans” coloca-se, por vezes, como um dos nomes para o corpo próprio. Ademais, considerou-se o percurso do conjunto Trans à singularidade como forma de potência transformativa que possibilitaria uma via de diálogo entre a psicanálise e outros saberes. Dito isso, é importante ressaltar que o presente trabalho se apoia na singularidade como modo pelo qual cada sujeito concebe o seu corpo. Espera-se, com este estudo, contribuir com a discussão, cada vez mais necessária, entre a comunidade LGBTQIA+ e a psicanálise e, consequentemente, que as questões apresentadas suscitem novas investigações sobre o corpo próprio para àqueles que se autonomeiam Trans.