Entre mulatas e moreninhas: constituição identitária e processos de autoafirmação de mulheres negras nas redes sociais.
Feminismos subalternos; Redes Sociais; Interseccionalidade; Decolonialidade; Psicologia social
O presente trabalho tem o objetivo de compreender os processos de reconhecimento e autoafirmação das negritudes de jovens mulheres negras alagoanas que utilizam o Instagram para abordar assuntos relacionados às suas vivências. Esse aplicativo de rede social é pensado e entendido enquanto um dispositivo de difusão e articulação de vozes e de escrita que ecoam através da internet, alcançando pessoas e chegando em espaços que nem sempre o discurso acadêmico consegue chegar. Para isso, a pesquisa será embasada pelas teorias feministas subalternas e decoloniais, considerando o caráter não hegemônico e não universal do feminismo e localizando geopoliticamente esta pesquisa, situada ao sul global, num país terceiro-mundista, no nordeste brasileiro e no estado de Alagoas. Como complemento e suplemento do arcabouço teórico que orienta o estudo, as teorias e práticas decoloniais foram utilizadas no intuito de fornecer solo fértil para se pensar em como o projeto moderno/colonial, através de estratégias de dominação e violência, moldou e dilacerou vidas e subjetividades de sujeitas(os) negras(os), a ponto de fazer com que estas(es) se afastassem ou negassem completamente suas negritudes. Os objetivos específicos debruçam-se sobre a história de vida dessas mulheres e as experiências subjetivadas por elas desde antes do Instagram, como também a partir dele. Desse modo, pretende-se identificar e problematizar a intersecção de aspectos relativos à raça, classe e gênero nas experiências trazidas, bem como compreender de que forma as ferramentas disponíveis no Instagram são utilizadas por elas para elucidar as pautas de gênero e identidade. A metodologia foi pensada a partir do PesquisaCOM, uma perspectiva que entende o conhecimento enquanto construção coletiva, sem hierarquias, sem posições de objeto e sujeito. Cinco mulheres negras ciberativistas foram co-autoras deste projeto. Essas mulheres são alagoanas, maiores de dezoito anos, ativas nas redes sociais, mais precisamente no Instagram, e falam abertamente sobre pautas relacionadas às identidades negras, interseccionando o viés de gênero ao de raça e classe, entre outros que foram identificados no decorrer do projeto. Foram realizadas conversações UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS INSTITUTO DE PSICOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA afroafetivas com cada uma delas através de vídeochamadas, que tiveram os áudios gravados. Posteriormente à análise, foram realizadas outras conversações, denominadas de conversações devolutivas, no intuito de mostrar para elas o que foi feito e pedir sugestões para possíveis mudanças. A análise foi realizada a partir de autoras negras preocupadas com a construção de linguagens contra-hegemonicas, como por exemplo, bell hooks. A autora entende uma possibilidade de análise do discurso contra-hegemônica, um tipo de análise consiste em criar um espaço que proporcione o ouvir sem dominar. Essa perspectiva não se propõe conquistar a narrativa como um todo, mas sim conhecer e elucidar seus fragmentos. Estes, são entendidos enquanto falas contra-hegemônicas que se opõem à língua hegemônica-opressora e criam possibilidades de libertação para as/os subjugadas/os.