VIVÊNCIAS DE TRABALHADORAS/ES DA REDE DE PROTEÇÃO SOBRE A VIOLÊNCIA FAMILIAR CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
a) Crianças e Adolescentes, b) Violência Familiar, c) Políticas Públicas, d) Rede de Proteção e e) Intersetorialidade.
A violência familiar contra crianças e adolescentes é um problema social e de saúde complexo, multifatorial e que produz efeitos nocivos à infância e à adolescência. Esse fenômeno tem atingido um número cada vez maior de famílias. Pesquisas indicam que no Brasil, nos anos de 2020 e 2021, esse tipo de violência atingiu o número de mais de 50 mil denúncias apenas no primeiro semestre, e desse total, mais de 81% ocorreram dentro da própria casa. Em Alagoas, essa realidade não é diferente, nos anos de 2017 a 2020, foram registrados mais de 1.900 casos de violação a esse público, sendo o ano de 2020 marcado pela baixa dos índices por causa da subnotificação em decorrência do isolamento social. Desde a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, medidas têm sido tomadas para combater essa violência. Formou-se uma rede de proteção a essas crianças e adolescentes constituída por diversas políticas ligadas a Assistência Social, Saúde, Educação e instituições como Conselho Tutelar, Unidades de Acolhimento, dentre outras. Essas políticas são empreendidas por trabalhadoras que estão constantemente tentando se articular entre si para realizar a intersetorialidade e garantir a dignidade de crianças e adolescentes por meio do serviço de proteção integral. Acreditando que a violência familiar é um problema social que acarreta a vida de muitas crianças e adolescentes de famílias brasileiras, este trabalho pretende discutir as vivências de trabalhadoras que fazem parte da rede de proteção a esse público, buscando acessar como elas compreendem essa rede, a efetividade da mesma, as potencialidades e as fragilidades que interferem em seu trabalho no dia a dia, bem como o significado da própria violência dentro de seu território. Esta pesquisa desenvolveu-se na cidade de Roteiro, um município pequeno localizado no interior da capital alagoana e contou com a co-participação de oito profissionais que trabalham em diversos setores como Cras, Creas, Unidades Básicas de Saúde, Escolas e Conselho Tutelar. Esta investigação trata-se de uma pesquisa qualitativa que teve como procedimento metodológico, a utilização do diário de campo, de entrevistas semi-estuturadas e das histórias ficcionais contadas a partir de minhas vivências como trabalhadora do Suas. Utilizamos a interseccionalidade como ferramenta para analisar as intersecções que cruzam as vivências de pessoas e famílias atendidas por essa rede e como isso afeta o dia a dia das profissionais que estão constantemente enfrentando os desafios de lidar com essa violência. A partir das produções de conhecimento dessa pesquisa, foi possível observar que a violência familiar contra crianças e adolescentes ainda é um fenômeno normalizado na cultura de muitas famílias, que a intersetorialidade ainda é uma prática que precisa ser entendida pelos gestores municipais e consequentemente executada pelas trabalhadoras, que as mesmas não possuem vínculos trabalhistas seguros podendo serem demitidas a qualquer momento e que lidam diariamente com as condições de trabalho que fragilizam a oferta de seus serviços, como equipes reduzidas e acumulo de atividades. Por fim, é importante ressaltar a necessidade da valorização de trabalhadoras da rede de proteção a crianças e adolescentes, sejam elas do Suas, Educação, Saúde ou qualquer outra instituição que oferte esse serviço, bem como, a necessidade de se discutir ainda mais as relações de trabalhadoras, seus vínculos empregatícios, condições de trabalho, dentre outros para assim compreender os desafios que cercam problemáticas como a violência familiar contra crianças e adolescentes.