Macbeth: a tragédia da equivocidade
Desejo; Macbeth; Shakespeare; Equivocidade; Lacan; Psicanálise
Shakespeare e desejo foram os dois fios condutores iniciais dessa dissertação. Jacques Lacan em seu O seminário 6 – o desejo e sua interpretação, dedica sete lições - que têm Hamlet, de William Shakespeare, como temática principal - ao objetivo de demonstrar que o protagonista dessa tragédia pode ser visto como um paradigma para pensar o desejo. De acordo com autores como A.C. Bradley e Harold Bloom, Macbeth é uma outra obra shakespeariana que possui similitudes com Hamlet. Em razão dessas similaridades entre essas obras, a pesquisa inicialmente questionou se seria possível encontrar em Macbeth elementos que possibilitassem pensar, também, o desejo nessa tragédia. Entretanto, uma vez que a pesquisa se debruçou sobre a leitura lacaniana de Hamlet, pôde-se concluir que isso não seria possível, uma vez que, na leitura de Lacan, a procrastinação de Hamlet em executar a vingança é um elemento central para situar o mecanismo do desejo nesse personagem. Já em Macbeth, esse adiamento da ação não se apresenta, fazendo- o carecer de elementos que auxiliariam a pensar o aparelho do desejo nesse protagonista. Diante disso, a pesquisa passou a questionar o que seria possível localizar em Macbeth, a partir da perspectiva da psicanálise de Lacan. Para responder a essa pergunta, foi necessário esquadrinhar o texto da tragédia Macbeth, após o que se tornou possível notar que os jogos de palavras e as falas ambíguas, dotadas de duplos sentidos e equívocos, são aspectos marcantes desse drama. Dessa forma, considerando-se que a equivocidade é uma característica relevante da teoria psicanalítica de Lacan, constatou-se como, em Macbeth, a partir do equívoco no campo da linguagem, é possível emergir algo que diz respeito à posição subjetiva do sujeito. Isso se reflete nos discursos e falas do personagem-título, e em especial, por meio do significante deed. Averiguou-se que a homofonia dessa palavra com o termo did, torna-o ambíguo, fazendo seu uso, nos discursos de Macbeth, indicar algo acerca da posição de um sujeito frente ao ato. Concluiu-se que, apesar de não ser possível localizar o desejo nesse personagem, é possível, com o auxílio dessa tragédia shakespeariana, evidenciar como a partir da equivocidade é possível que emerja uma verdade acerca da posição do sujeito.