NARRATIVAS SOBRE GESTAR, PARIR E PUERPERAR DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19
Covid-19; pesquisa narrativa; violência obstétrica; corpo-território.
Buscamos compreender como algumas mulheres, residentes em Pão de Açúcar, Alagoas, vivenciaram suas experiências de gestar e parir durante a pandemia da Covid-19, a partir das narrativas que elas consideraram importantes e escolheram compartilhar. Posicionamo-nos a partir de uma perspectiva feminista e ancoramos nosso referencial teórico-metodológico na Pesquisa Narrativa. Foram realizadas entrevistas narrativas com quatro mulheres, de forma remota e síncrona, que viveram seus partos entre maio de 2020 e abril de 2021. Como tópico inicial para a narração, elaboramos a pergunta: “Quais situações marcaram sua gestação e seu parto que você gostaria de compartilhar comigo?”. A partir da transcrição das entrevistas e da leitura recorrente buscamos dialogar com temas que nos ressoaram de suas narrativas, articulando-os com conceitos identificados na literatura feminista: silêncios, violência obstétrica e corpo-território. Dialogamos a partir deles, propondo-nos a ser uma voz com suas vozes, que nos falam de suas experiências de gestar, parir e puerperar atravessadas pela pandemia da Covid-19. Seus relatos falam de medos: da doença, das possíveis sequelas, dos impactos que a doença poderia trazer para a gestação e para o desenvolvimento do bebê; do estranhamento de viver uma gestação não vista, uma barriga que cresceu e os vizinhos não viram, sequer sabiam que um bebê estava a caminho. Falam-nos da necessidade de bater o pé, de lutar pela garantia de direitos já conquistados; compartilham a vivência de um puerpério solitário e silencioso, mesmo com tanto a ser dito; do esquecimento da existência da pandemia, pois diante da ameaça de um vírus invisível, a ameaça da violência obstétrica já vivida, invisibilizada e silenciada, gritou mais alto.