A constituição da família adotiva na perspectiva de pais e mães homoparentais
Família; Homoparentalidade; Adoção; Winnicott.
Esta dissertação aborda a família como uma categoria socialmente construída, situada histórica e culturalmente, que exerce um papel fundamental ao longo do processo de desenvolvimento do indivíduo. Destaca os novos arranjos familiares, especialmente a família homoparental, que tem a adoção como principal meio para sua formação. Tem como objetivo geral analisar e compreender a constituição da família homoparental adotiva, a partir da perspectiva de pais e mães adotantes. Como objetivos específicos, busca conhecer e analisar o desenvolvimento das relações familiares nessas famílias; a história de vida familiar desses pais e mães; a experiência deles no processo de adoção e no exercício da parentalidade; e a relação da família homoparental com a família extensa e a sociedade. Trata-se de uma pesquisa de campo, de caráter exploratório e transversal, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisas (CEP) da Universidade Federal de Alagoas. Adota como referencial teórico a psicanálise de Donald Winnicott. Foi realizada em ambiente virtual e utilizou o estudo de caso como método de investigação. Participaram pais e mães de quatro famílias homoparentais adotivas, de três regiões do país (NE, N, SE). Foram coletados dados de diferentes fontes, a partir dos seguintes instrumentos: questionário sociodemográfico, entrevista semiestruturada e Procedimento de Desenhos de Família com Estórias (DF-E). Utilizou-se a técnica da Análise Temática de conteúdo para analisar os dados obtidos nas entrevistas, a partir dos quais foram construídas e discutidas quatro categorias temáticas: 1) “História familiar pregressa”, na qual foram abordados aspectos das experiências dos pais e das mães com suas famílias de origem; 2) “O projeto de parentalidade”, na qual discutiu-se sobre o desejo de exercer a parentalidade e sua concretização pela via da adoção; 3) “O cotidiano familiar homoparental”, na qual abordou-se o desenvolvimento das relações intrafamiliares estabelecidas por meio da adoção; e 4) “A família homoparental na sociedade”, na qual discutiu-se as experiências da adoção com a família extensa e em relações sociais mais amplas. Os desenhos e histórias foram analisados a partir de questões norteadoras, conforme recomendações de Trinca. Diante das discussões realizadas, foi possível identificar potencialidades no desenvolvimento das relações intrafamiliares e no estabelecimento do vínculo afetivo entre os participantes e seus filhos, mas também atravessamentos de situações de preconceito vividas com as famílias de origem, tanto no exercício parental quanto no suporte recebido pela família extensa. As situações de preconceito estiveram relacionadas à homossexualidade, à adoção, à homoparentalidade e à monoparentalidade. Também foi possível identificar a representação das famílias homoparentais participantes nos desenhos e histórias produzidas. No que se refere às experiências em relações sociais mais amplas, destaca-se o apoio recebido por amigos e colegas de trabalho. Os participantes também lidaram com estigmas e preconceitos em espaços institucionais, como na escola, em serviços de saúde e pela equipe técnica do Poder Judiciário. Conclui-se que as famílias homoparentais adotivas do presente estudo proporcionaram um ambiente facilitador do processo de amadurecimento emocional dos filhos.