“Porque nem tudo a medicina cura”: Encantarias cotidianas produzidas no terreiro de um quilombo do agreste alagoano.
Quilombo; Terreiro; Natureza; Cuidado.
O presente trabalho consiste em uma pesquisa qualitativa, apoiada no método de pesquisa participante e tem como tema: “Porque nem tudo a medicina cura”: encantarias cotidianas produzidas no terreiro de um quilombo do agreste alagoano. Para tanto, o objetivo geral da pesquisa consistiu em compreender a expressão das práticas de cuidado em saúde produzidas no cotidiano das filhas e filhos de santo do terreiro presente no território de uma comunidade quilombola do agreste de Alagoas. Os procedimentos metodológicos utilizados no decorrer do trabalho incluíram: revisão de literatura sobre temáticas relacionadas à saúde e práticas de cuidado tradicionais quilombolas, realização de entrevistas semiestruturadas, gravadas e transcritas. Os instrumentos metodológicos incluíram: observação participante, construção de diários de campo, conversas cotidianas e entrevistas individuais semiestruturadas. Os participantes do estudo foram membros do terreiro Palácio de Ogum, maiores de idade, sem restrição de gênero. Para a análise dos dados da pesquisa, foi utilizada a técnica de análise temática. A partir dos estudos realizados, é possível constatar que as relações com a natureza apresentam papel fundamental nos processos de produção de saúde e cuidado performados pela comunidade quilombola enterreirada. Portanto, a natureza, nesse território, não é compreendida como recurso natural a ser explorado, mas respeitada enquanto tessitura de tudo que vibra, assegurando a existência dos processos ancestrais de manutenção da saúde física, mental e espiritual. Este trabalho visa explicitar as diferentes formas de relação com o território encontradas entre as filhas e filhos de santo, e identificar como o terreiro tradicional da comunidade se expressa enquanto dispositivo de cuidado em saúde no cotidiano dos quilombolas que o frequentam.