QUEM É A GAROTA DO OUTRO LADO DA TELA? UM ESTUDO ANTROPOLÓGICO SOBRE MULHERES BRASILEIRAS QUE PRODUZEM CONTEÚDO PARA O ONLYFANS
Mercado erótico. Tecnologia. Sexualidade.
Esta pesquisa decorre de um inquietamento pessoal que gira em torno da
construção da opinião pública estigmatizante sobre a vida intelectual e financeira de
mulheres que se apresentam como produtoras de conteúdo erótico e conseguem, por meio
de suas identidades públicas, construir um espaço para expressar suas sexualidades através de
perfis em redes sociais. No decorrer da pesquisa, nosso objetivo será demonstrar como
ocorre o processo de organização das práticas que gravitam ao redor do funcionamento
do ecossistema virtual que proporciona às produtoras de conteúdo uma visibilidade para
que possam divulgar, por meio de redes sociais como Instagram ou Tiktok, o “link
mágico” para que seus seguidores possam acessar o Onlyfans. Desta forma, iremos
apresentar, no decorrer do texto, como ocorre o processo de: 1. viralizar na internet; 2. se
tornar publicamente relevante; 3. escolher um nicho de conteúdo para atuar; 4. angariar
seguidores; 5. manter-se ativa nas aparições e, por fim, 6. alcançar a monetização a longo
prazo. Essas práticas, desenvolvidas através da rede de trocas que essas mulheres
compartilham entre si, foram assimiladas por mim, através da experiência cotidiana, e
captadas pela interação com cada produtora de conteúdo através das plataformas
utilizadas durante o período de junho de 2022 a julho de 2023. Busco classificar
pormenores da produção de conteúdo adulto como uma forma de trabalho que se encontra
dentro do universo das economias de plataforma, como um serviço on demand, que possui
como característica operar por meio do cloud work. Apresento, por fim, as adversidades
enfrentadas no reconhecimento desta prática como uma forma de trabalho efetiva e
singular, expondo, sobretudo, como a própria internet foi responsável por criar conclusões
inverídicas a respeito da realidade de quem atua nesse ramo.