Deleuze e a subjetividade filosófica enquanto efeito do movimento de criação conceitual
Deleuze. Hume. Empirismo. Subjetividade. Conceito.
Nosso trabalho busca compreender as condições de constituição da subjetividade filosófica a partir da criação conceitual, tomando como eixos interpretativos o pensamento de Gilles Deleuze e a filosofia empirista de David Hume. A partir disso, nossa análise parte da tese central de que, em Deleuze, a subjetividade não é um dado estável ou uma substância interior estática, mas um efeito intensivo e movente que emerge em meio a processos pré-subjetivos e impessoais. A subjetividade, nesse sentido, resulta de forças de diferenciação que se atualizam na atividade conceitual, sendo mais um processo do que uma estrutura determinada. Nesse sentido, o primeiro capítulo de nossa dissertação busca revisitar criticamente o Tratado da Natureza Humana, destacando a forma como Hume articulou os conteúdos mentais (impressões e ideias), a crença como efeito do hábito, os princípios de associação e a fragilidade de nosso saber empírico. Daí, procuramos identificar em Hume uma certa antecipação do modelo de subjetividade não substancial, construída a partir de operações relacionais e efeitos de repetição, memória e imaginação. A partir disso, em nosso segundo capítulo, buscamos destacar como Deleuze, especialmente em Empirismo e Subjetividade (1953), transforma essa leitura em um ponto de partida para sua própria filosofia da diferença. Em vez de considerar o empirismo como oposição ao pensamento conceitual, Deleuze propõe um empirismo transcendental no qual o conceito emerge como resposta a encontros singulares com o real. Nessa perspectiva, ponderamos a formação da subjetividade no entrelaçamento entre empiria e criação conceitual, e expusemos que a subjetividade deleuziana se dá no cruzamento entre crença e invenção e em uma lógica intensiva de produção, que pode nos oferecer uma renovação crítica a partir da noção de subjetividade como processo aberto, múltiplo e sempre em devir.