A DESCOBERTA DO NOVO MUNDO EM MONTAIGNE: UMA LEITURA DOS
CANIBAIS
MONTAIGNE; CANIBAIS; NOVO MUNDO; ENSAIOS; CETICISMO.
Este trabalho tem como objetivo refletir sobre a descoberta do Novo Mundo sob a óptica de Montaigne em meados do século XVI e elucidar a forma como o autor pensou os canibais brasileiros em seu ensaio “Dos Canibais” (I, xxxi). É importante dizer que nesta pesquisa tomamos a posição segundo a qual Montaigne teria lido os relatos presentes na literatura de viagens, além da fonte que o autor menciona em sua obra. Tal posição é endossada por comentadores tais como Lestringant (2006), Souza Filho (2006), Birchal (2007) e Scolarick (2016). Por isso pensamos que seja importante fazer uma avaliação da literatura de viagens que vigorou na época do descobrimento, e que é muito importante para a própria confecção dos ensaios “Dos canibais” (I, xxxi), para que tenhamos uma noção de como estava sendo formada a imagem do indígena pela literatura da época. Relembraremos os conceitos de bárbaro e selvagem que são tão circulados pela sociedade europeia do século XVI e difundido pelo mundo literário, intelectual e cultural. Estas narrativas acabam construindo uma imagem do nativo brasileiro que Montaigne não compactua e o autor acaba dando um outro sentido, menos agressivo e violento para a imagem dos indígenas brasileiros. Visitaremos também as impressões do filósofo e
comentadores a respeito da moral e guerra na sociedade nativa. Além de olhar para o encontro entre os nativos brasileiros e o rei Carlos IX e o que teria levado o autor a escrever este relato em seu ensaio. No contexto do discurso montaigniano, refletiremos a respeito do ceticismo em seu interior e a influência deste no ensaio do
autor dedicado à descoberta de um Novo Mundo e de novos povos. Para isso, faremos uma breve digressão histórica acerca do ceticismo pirrônico e do ceticismo acadêmico para que seja possível entender como estes aparecem no pensamento do autor e, consequentemente, dê o aval para o aparecimento de sua crítica aos colonizadores.