FRANKENSTEIN OU A ARTE COMO EXPERIMENTO DE PENSAMENTO: DILEMAS ACERCA DA PROXIMIDADE ENTRE A OBRA DE SHELLEY E OS EXPERIMENTOS MENTAIS
Shelley; Frankenstein; filosofia da ciência; ficção científica; experimentos mentais.
Em 1818 Mary Shelley escreve Frankenstein: ou o Prometeu moderno. Em seu livro, conta
uma história de horror gótica que evoca a centelha que iniciaria o gênero hoje conhecido como
Ficção Científica — ainda que como algo prototípico (como normalmente se espera de obras
fundadoras). A construção do mito moderno de Frankenstein, entre outros fatores, está
enraizada num temor pela criação de um monstro feito de partes de outros corpos, com a
finalidade de suplantar a morte. Porém, por suas linhas, a ficção proposta por Shelley também
parece abrir margem para a reflexão acerca de uma metáfora da crise surgida na prática e
produção científica em sua época — algo que acaba refletindo também um problema da ética
da produção científica. Assim, se pensarmos sobre a construção de sua história e como ela
influenciou num modo de pensar que levou a um olhar mais crítico à responsabilidade da
ciência, surge daí algo muito semelhante à composição do que é compreendido na ciência e na
filosofia como Experimentos Mentais — formas eficientes, consistentes e, até, lúdicas de expor
ou mesmo de resolver problemas teóricos. Este trabalho visa esclarecer como Frankenstein e o
gênero da Ficção Científica podem estar associados e corresponderem à construção de uma
reflexão assemelhada à da prática de Experimentos Mentais (Experimentos de Pensamento),
na medida em que propõem, através da criação imaginativa de elementos ficcionais específicos,
pontos de partida para a reflexão sistemática sobre questões teóricas relevantes. Faremos tal
investigação baseados nas obras dos principais teóricos sobre os experimentos mentais, tais
como Brown (1991), mas também sobre as relações entre a literatura de ficção científica e a
filosofia, tais como Albuquerque (2020) e Botting (2010), entre outros. Pretendemos, assim, ao
contrário de instrumentalizar a escrita literária para uma finalidade teórica específica, apontar
para o fato de que a compreensão de certas obras literárias em sua abertura para a reflexão
filosófica pode assemelhar-se ao processo epistêmico desenvolvido nos chamados
experimentos mentais.