Retratos de mulheres com deficiência:emaranhados de uma etnografia visual reinterpretada pela presença.
Há qualquer coisa profundamente curiosa no modo como a nossa ocidental normativa sociedade apreende a imagem dos corpos com deficiência. Susto, compaixão, horror, pena, risos. A deficiência constitui uma experiência que nutre os nossos imaginários, ancorados em uma forma mítica de personagens incapazes e defeituosas. Ora vem sob o contorno histórico da exibição de corpos monstruosos em espetáculos euro-americanos, ora preenche a representação das figuras mendicantes que nos interessam servir por compaixão, ora ainda, objetos de desejo usados ao bel prazer como modelos corajosos de superação e ajustamento pessoal. No Brasil, ironicamente, essa presença parece habitar um lugar visual exclusivo à uma memória nebulosa, como uma criação prévia que é sempre pensada em termos exteriores, a partir de uma noção dada de visão de mundo. Afinal, a invisibilidade desses corpos em nosso cotidiano é escandalosa, revela antes de mais nada, a ausência. A condição de alguém que deve ser escondido até que lhe designem a hora certa da aparição, uma vez que representa uma não-referência para uma imagem organizada e perfeita do modelo padrão de ser um humano.
Retratos; mulheres com deficiência; etnografia visual.