CEMITÉRIOS E RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS – uma etnografia dos enterramentos de povos de terreiro na Maceió do século XXI
Enterramentos; Cemitérios; Religiões de matrizes africanas; Maceió-AL.
As sociedades humanas desenvolvem formas bastante diversificadas de lidar com a morte e, consequentemente, de como tratar da separação física do corpo. Diante disso, os sepultamentos têm se configurado, se não exclusivamente, ao menos como uma das práticas mais usadas para o descarte do corpo morto. Até o início do século XIX, os enterramentos costumavam acontecer nas igrejas, mas sob alegações de contaminações, transmissão de doenças e odores fétidos, políticas higienistas foram implementadas e os enterramentos passaram a ser realizados em locais específicos, os cemitérios. Desde o seu surgimento, as necrópoles, em sua grande maioria, apresentam um cenário simbólico imagético voltado às religiões cristãs, enquanto as religiões de matrizes africanas foram e ainda são subalternizadas dentro desses espaços. Essa realidade é ainda mais problemática nos cemitérios de Maceió-AL, campo desta pesquisa, onde além das práticas mortuárias estarem marcadas por situações de constrangimentos e mesmo pelo impedimento da realização de todos os procedimentos e etapas esperados pela comunidade dos povos de terreiro para aquele momento, verifica-se também um silenciamento e uma não problematização da situação quando comparamos com as reivindicações existentes em outras cidades do Brasil em relação à ocupação e ao uso desses espaços. O presente trabalho versa sobre tensões e assimetrias que marcam, portanto, a utilização dos cemitérios em Maceió-AL por filhas e filhos de santo nas primeiras décadas do século XXI.