CORPOS EM TRANSIÇÃO: UMA ETNOGRAFIA SOBRE ENTERCRUZAMENTOS DE GÊNERO, RAÇA E SEXUALIDADE NO ESPAÇO ESCOLAR EM MACEIÓ.
Esta dissertação é resultado de uma pesquisa etnográfica realizada ao decorrer do ano de 2017, em uma escola pública da rede estadual de Alagoas, no município de Maceió. O objetivo do trabalho é compreender as transições relacionadas ao gênero, empreendidas por jovens estudantes do ensino médio que escapavam de pressupostos heteronormativos. Para tanto, foram realizadas observações da socialidade juvenil em momentos extraclasse, especialmente intervalo e aulas vagas. Pátio, corredores, refeitório, quadra de esportes, foram locais privilegiados de interlocução. A escola em questão era percebida enquanto “inclusiva” pelas/os jovens estudantes lésbicas, gays, travestis e transexuais, a assertiva se ancorava em comparação a outros contextos de maior visibilidade das expressões homofóbicas. Os principais interlocutores da pesquisa foram dois jovens que experienciavam a “transição de gênero”. Amanda que em um primeiro momento passou a se descrever enquanto “lésbica”, e posteriormente realizou uma rápida transformação do feminino para o masculino, se denominando um “homem trans” adotando o nome Fábio. E Gisele que realizou uma transformação mais gradual do masculino para feminino, chamando-se anteriormente de Gílson e se descrevendo “travesti”. As transformações corporais empreendidas pelos sujeitos não podem ser entendidas sem a observação de um contexto social mais amplo, especialmente a centralidade da instituição escolar para a juventude. As “transições de gênero” ocorriam entre narrativas religiosas, a partir da atuação de um grupo estudantil o “JPC” e a proposta de afirmação dos direitos sexuais na escola, nas diferentes estratégias de enfrentamento a homofobia colocada em curso pela direção a partir da categoria “acolhimento”. Apesar da centralidade das questões de gênero e sexualidade no espaço escolar, a dimensão racial era pouco mobilizada pelos sujeitos no sentido de combate a expressões discriminatórias. A racialização dos corpos atribui contornos ao gênero e a sexualidade, sendo imprescindível pensá-los de forma articulada para a construção de um espaço escolar mais democrático.
Educação; Transição de gênero; Raça; Sexualidade.