AS AFRICANIDADES NO REPENTE: RELEITURAS DO FOLCLORE E UMA NOVA PERSPECTIVA PARA A APLICAÇÃO DA LEI 10.639/03
Pan-Africanismo. Cantoria de Repente. Folclore. Africanidade.
A presente pesquisa apresentou como tese o fato da cantoria de Repente, tradicionalmente praticada no Nordeste do Brasil, ser uma manifestação afrodescendente. Para tal, foi necessário analisar os primeiros registros acerca dos repentistas e fazer uma análise documental de caráter interdisciplinar. Para isso, pretendeu-se destacar o estado da arte nas pesquisas acerca do surgimento do repente no Nordeste. Sendo o objetivo geral desta pesquisa: analisar documentos, por um viés pan-africano e interdisciplinar, pera então podermos compreender a poesia improvisada ao som de instrumentos, conhecida como repente, e classificada como gênero oral. Como objetivos específicos este trabalho busca: Traçar um embasamento, por um viés histórico, acerca da oralidade poética na Península Ibérica e descendência africana em sua cultura, examinar a presença da cultura oral nos povos afrodescendentes no Brasil e suas relações culturais com o repente, definir propostas de intervenção escolar para o cumprimento da lei 10.639/03. A análise dos documentos exigiu cuidado, uma vez que se trata de um discurso que passa pela escrita e, portanto, pela voz de outrem. Para isso, as reflexões de Mikhail Bakhtin (2003) foram pertinentes. A análise possibilitou resgatar a presença das africanidades nessa cultura, uma vez que inexiste uma pesquisa científica acerca de sua eurodescendência, apesar dessa afirmação ser presente entre os folcloristas como Rodrigues de Carvalho (1928), Leonardo Mota (1955) e Câmara Cascudo (1984). A chega dos negros como os primeiros desbravadores dos sertões de Pernambuco e Paraíba, região na qual os primeiros cantadores foram registrados, além das diversas semelhanças entre essa cultura e a dos griots estados por Hampaté Bâ (2010), a ligação com o processo diaspórico estudado por Anjos (2010), tornam a presente tese de que o repente é afrodescendente a possibilidade mais provável até o momento. Com isso, a pesquisa pode contribuir para que o povo negro conheça sua história e desconstrua o estereótipo no qual são vistos apenas como escravizados, algo que vem sendo alimentado através de instituições públicas e privadas, inclusive pelas escolas e materiais escolares. Por esse motivo, propomos dois objetos de intervenção escolar, um para a formação continuada de professores e o outro para trabalhar o repente como literatura afro-brasileira. Além de ajudar a cumprir lei 10.639/03 e irá ajudar a construir um discurso não eurocêntrico e uma sociedade mais tolerante e conhecedora de sua história também afrodescendente.