O presente trabalho é uma pesquisa qualitativa que tem como objetivo investigar as compreensões que os profissionais homens de EI têm sobre a presença masculina na Educação Infantil no município de Maceió-AL. A desigualdade de gênero de profissionais de Educação Infantil é um fenômeno mundial, em que os homens representam apenas uma ínfima proporção nessa área. O debate político e acadêmico na perspectiva internacional remete à década de 1970. As discussões sobre os papéis sexuais foram amplamente debatidas com os trabalhos realizados pela Rede Europeia de Atendimento Infantil no período de 1986 a 1996. Houve, então, a necessidade urgente de mudança, sendo estipulada uma meta de aumentar em 20% a participação dos homens nos serviços de cuidado e educação de crianças dos países membros, meta que nunca foi atingida. No Brasil, o debate político ainda é incipiente e o acadêmico tem sido ampliado significativamente, conforme pesquisas de Cavalcanti (2018), Bonifácio (2019) e a Revisão Sistemática de Literatura deste estudo. Em Alagoas, ainda não há pesquisas que abordem essa temática. Considerando a relevância da temática, a pesquisa pretende responder à pergunta: o que é ser homem na EI? Os aportes teóricos adotados para melhor compreensão do tema são os que discutem as categorias gênero, masculinidades, maternidade, família, feminização do magistério e os impactos nas políticas públicas de educação infantil. A pesquisa utiliza o método Sophos – Esquema de Observação Fenomenológica de Segunda Ordem – desenvolvido por duas dinamarquesas (HENSEN e JENSEN, 2004). A finalidade desse método são as observações de segunda ordem, ou seja, o pesquisador observa pessoas que observam os filmes que são discutidos em grupos focais. É inspirado na pesquisa de Tobin et al (2008) que utilizou a etnografia visual e polivocal para comparar práticas de educação infantil em três países: Japão, China e Estados Unidos. Para este estudo, apresentou-se um filme de 30 minutos sobre o cotidiano de um centro de educação infantil da Dinamarca (HADDAD, JENSEN, 2017) que foi utilizado numa pesquisa mais ampla realizada na Universidade Federal de Alagoas (HADDAD, 2018, 2019 e 2020; HADDAD, MARQUES, AMORIM, 2020). O estudo foi desenvolvido em três etapas. Na primeira, fez-se um mapeamento da presença de profissionais homens, efetivos e/ou contratados, da rede municipal de educação infantil do município de Maceió-AL, com o objetivo de obter uma visão geral da quantidade de profissionais homens e onde estão distribuídos. Em seguida, enviou-se um questionário on-line para esses profissionais, solicitando que respondessem anônima e voluntariamente, questões como:  a sua idade, o tipo de cargo ou função etc. No final do questionário, informou-se sobre a etapa seguinte e, caso o profissional aceitasse participar, deixaria o seu contato. Na terceira etapa, foram realizados 3 grupos focais compostos de 3 a 4 profissionais homens (dois grupos de auxiliares de sala e um grupo de professores) selecionados na segunda etapa para discutir o filme. As sessões foram realizadas virtualmente pela plataforma Google Meet. Em seguida, fez-se as transcrições e organizou-se os dados com o auxílio do software MaxQda, que constituiu o material empírico que foi analisado com base na análise de conteúdo de Bardin (2016). Na discussão foram apresentados temas como a figura masculina, higienização, preconceito (ingresso na EI, colo, perigo), vestimenta, relações com as crianças, famílias e colegas de trabalho. Percebeu-se que entre os auxiliares e professores, o contato com as crianças para os primeiros é restrito na hora da higienização, principalmente com as meninas, enquanto para os professores essa função não faz parte das suas atribuições por orientação da gestão. Em relação à vestimenta, todos os grupos observaram que no local onde trabalham jamais permitiriam usar bermuda, por exemplo. Os profissionais têm uma relação boa com as crianças e também com as famílias, no geral. Alguns auxiliares de sala têm multifunções dentro do CMEI. Pôde-se constatar que ainda existem limitações ao profissional homem de EI nas práticas diárias dentro do CMEI, como higienização e afeto.