A DIMENSÃO SUBJETIVA DO PROCESSO EDUCACIONAL ESCOLAR DE CRIANÇAS COM A SÍNDROME CONGÊNITA DO ZIKA VÍRUS (SCZV) E STORCH: SIGNIFICAÇÕES DOS FAMILIARES ASSOCIADOS A UMA ONG SOBRE A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
Psicologia Sócio-Histórica. Dimensão Subjetiva da Realidade. Síndrome Congênita do Zika-Vírus. Mulheres Cuidadoras. Educação Escolar Inclusiva.
O Nordeste brasileiro ficou marcado, nos anos de 2015 e 2016, pelo nascimento de um grande número de crianças com a característica da microcefalia. Tal fenômeno foi alvo de interesse por parte de médicos e pesquisadores do Brasil e do mundo que, após uma série de investigações, chegaram à conclusão que o responsável pelo número crescente de casos de microcefalia em recém nascidos era o vírus Zika, tendo como principal vetor o mosquito Aedes Aegypt. Além disso, foi também constatado que a microcefalia não era a única característica que essas crianças apresentavam. Havia também outras comorbidades, tais como: deficiência intelectual, baixa visão, deficiência física, deficiência auditiva, entre outras. A este conjunto de características associadas ao indivíduo que foi infectado pelo Zika Vírus – quando ainda na vida uterina – foi denominado de Síndrome Congênita do Zika Vírus (SCZV). As mulheres contaminadas pelo mosquito, durante a gravidez, e que, por isso, tiveram filhos diagnosticado com a SCZv, são em sua maioria ainda muito jovens, negras e pobres; e hoje, quase uma década depois da epidemia do Zika Vírus, grande parte dessas mulheres têm seus filhos matriculados nas escolas da rede regular de ensino. Isto posto, a pergunta que norteia essa pesquisa é: quais as significações produzidas, por mulheres cuidadoras de crianças acometidas pela SCZV – associadas a uma organização não governamental voltada aos familiares das crianças afetadas pela referida síndrome – acerca do processo da inclusão escolar de suas crianças? Assim, esta tese tem como objetivo geral explicitar e analisar a dimensão subjetiva do processo educacional inclusivo, a partir das significações de mulheres associadas a uma ONG direcionada às famílias de crianças com a SCZv. Em específico, a pesquisa tem os seguintes objetivos: descrever e explicar as determinações sócio-históricas que constituem a realidade concreta de quatro mulheres que são cuidadoras de crianças com SCZv associadas a uma ONG; apreender e analisar as significações construídas por estas cuidadoras acerca do papel da ONG na qual são associadas, ante o processo da inclusão escolar de suas crianças; e apreender e analisar as suas significações sobre o processo educacional inclusivo de suas crianças. Neste sentido, fizemos uso dos Núcleos de Significação enquanto procedimento de análise dos dados produzidos e tomamos como base teórico-metodológica o Materialismo Histórico e Dialético. Os dados foram produzidos por meio de uma entrevista semiestruturada realizada com quatro mulheres (três mães e uma avó de crianças acometidas pela SCZV) que têm suas crianças matriculadas em escolas da rede pública de ensino da cidade de Maceió-Al; e que são associadas a uma ONG voltada às famílias de crianças com a SCZV. Tomando como base a análise das significações das mulheres cuidadoras sobre o processo inclusivo educacional de suas crianças, a presente tese defende a relevância de a escola assumir uma postura direcionada à ética do cuidado para com as crianças acometidas pela SCZV, tendo como princípio a Acessibilidade Afetiva; sobrepondo, desta maneira, a função social da escola que, historicamente e tradicionalmente, tem consistido em transmitir sistematicamente o conteúdo curricular, tendo como sujeito do processo de ensino-aprendizagem, o aluno considerado produtivo para o mercado de trabalho, vilipendiando a criança que apresenta deficiências graves da sua formação integral.