ESCRITA ALFABÉTICA E REPRESENTAÇÃO NO CAMPO DAS LÍNGUAS
DE SINAIS.
A Lei 10.436/2002, que reconhece como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais, afirma que a “Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa” e o Decreto nº 5.626/2005, que a regulamenta, esclarece que o português será para o surdo sua segunda língua. Sem acesso à fala e às suas unidades mínimas, os fonemas, nos questionamos: seria possível ao surdo aprender o português escrito, língua de escrita alfabética, como sua segunda língua e cumprir a exigência legal? Alguns dos trabalhos voltados para esse tema, considerando a escrita alfabética como representação da pauta sonora, argumentam que a alfabetização do surdo em português escrito teria mais êxito se houvesse uma escrita de línguas de sinais para intermediar esse processo. Com o propósito de discutir a questão maior que nos ocupa, isto é, a concepção de escrita alfabética e as possibilidades de acesso do surdo a ela, nos propomos a: a) analisar o conceito de escrita que circunda esses trabalhos e examinar os argumentos utilizados em defesa de uma escrita para as línguas de sinais, b) articular os conceitos e os argumentos encontrados com a reflexão proposta por Auroux (1992) acerca da escrita e do processo de gramatização das línguas vernáculas durante o Renascimento e c) apresentar a teoria do valor saussuriano como alternativa à noção de escrita como representação. Dentre os sistemas de escrita disponíveis para as línguas de sinais, escolhemos para a nossa reflexão o SignWriting, criado em 1974 por Valerie Sutton, justamente por se apresentar como um “sistema de escrita alfabético” capaz de registrar qualquer língua de sinais – tal qual o alfabeto latino com as línguas ocidentais, por exemplo. A metodologia adotada caracteriza-se pelo levantamento, seleção, discussão e análise de dados de natureza bibliográfica. Apoiamo-nos, sobretudo, na discussão historiográfica empreendida por Auroux (1992) e Desbordes (1995 e 1996) e nas propostas que tratam da alfabetização do surdo discutidas por Stumpf, (2000, 2003, 2005, 2016 e 2018), Bizio (2015) e Dizeu (2017). Para melhor compreensão da teoria do valor, usaremos Faria (2011 e 2013) e Lier-DeVitto (2018).
Escrita. Representação. Signwriting. Teoria do valor.