A LUTA POR EMANCIPAÇÃO EM V FOR VENDETTA:
A IDENTIDADE DA PERSONAGEM PROTAGONISTA NA DISTOPIA DE ALAN MOORE E DAVID LLOYD
V for Vendetta; personagem protagonista; identidade; distopia; intertextualidade.
A presente dissertação oferece uma análise da construção da identidade da personagem protagonista da graphic novel V for Vendetta (2005), de autoria dos quadrinistas ingleses Alan Moore e David Lloyd. Procurando ir além dos recortes que buscam isolar a personagem sob a ótica costumeira de uma figura terrorista e/ou anarquista, este estudo pretende perscrutá-la sob lentes múltiplas, evidenciando que os muitos contextos que esta narrativa híbrida evoca influem diretamente na construção de sua identidade. Desse modo, o texto é estruturado em três momentos analíticos. Primeiramente, o estudo enfatiza as diversas camadas textuais presentes na narrativa de Moore e Lloyd e sua relação com as distopias clássicas do século passado, bem como com o romance gráfico Watchmen (2022), apoiando-se na ideia da intertextualidade proposta por Julia Kristeva (2005). Recorre ao suporte teórico de Tom Moylan (2016) e Gregory Claeys (2017) para traçar uma breve genealogia da distopia e seus cruzamentos com o texto verbal-visual em questão. Assim, quanto à análise dos elementos visuais, embora permeando todo o trabalho, este bloco ressalta as teorizações de Will Eisner (2010), Scott McCloud (2005), Thierry Groensteen (2015) e Daniele Barbieri (2017). O segundo momento diz respeito à parte principal do estudo, ou seja, especificamente ao processo de construção da identidade da figura mascarada, buscando em Stuart Hall (2020) apoio teórico para discorrer sobre as características fragmentadas e transitórias do sujeito da pós-modernidade, as quais podem ser percebidas em V. Nesse sentido, levando em conta suas recorrentes mudanças de índole e atitudes, que percorrem caminhos heroicos e anti-heroicos na mesma jornada, Joseph Campbell (2007) contribui com uma abordagem das origens e desenvolvimento do herói clássico e modelar, enquanto Victor Brombert (2004) e Mario González (1994) dão suporte quanto ao conceito de anti-herói na literatura. Puxando e destacando ainda mais um fio dessa colcha semântica com a qual se reveste a personagem, isto é, a maneira através da qual ela desvia da norma no que diz respeito a gênero e sexualidade, esta análise se ancora nos estudos de Judith Butler (2010) e Annamarie Jagose (2017) acerca da teoria queer, problematizando a construção variável da identidade. Jamie Heckert (2011), por sua vez, alicerça as bases para o exame da relação entre anarquismo e sexualidade. Na terceira seção, finalmente, é feita uma comparação entre o quadrinho e a versão para o cinema. Recorrendo ao argumento da primeira parte a respeito dos laços entre a obra analisada e os clássicos distópicos dos novecentos, este terceiro momento analítico acrescenta que apesar desses cruzamentos, V for Vendetta pode ser lida como uma distopia crítica, haja vista sua estrutura formal e direcionamento político. O suporte teórico acerca desse gênero literário e suas nuances de horizonte utópico e pessimismo militante é buscado em Tom Moylan (2016) e Raffaella Baccolini (2000; 2003).