ANTÓNIO LOBO ANTUNES EM ARENA BAKHTINIANA:
Heteronímia e Polifonia nos romances Eu hei-de amar uma pedra e O meu nome é Legião
António Lobo Antunes. Romance português contemporâneo. Heteronímia. . Polifonia. Desassossego.
Esta pesquisa faz uma leitura teórica e crítica das obras Eu hei-de amar uma pedra (2004) e O meu nome é Legião (2007), do escritor português António Lobo Antunes, a fim de conceituar e exemplificar o que consideramos ser, nesta tese, um romance heteronímico no âmbito das literaturas de Língua Portuguesa. Observamos, nos romances antonianos publicados a partir dos anos 2000, uma constante necessidade do autor em trazer, para a arena romanesca, personagens que também são autores/as literários/as — uma heteronímia que incide na obra não apenas pela temática, mas sobretudo pela estética circunscrita na autonomia de um autor secundário (Bakhtin, 2006), que cria a si, aos seus e ao seu criador — um tal de Lobo Antunes literário que é mencionado por suas personagens. Para tanto, sabemos que analisar a heteronímia romanesca somente se faz possível considerando-se a grande reflexão teórica (e prática) que se formou a partir do fenômeno produzido por Fernando Pessoa, na primeira metade do século XX em língua portuguesa. Assim, esta pesquisa responde à leitura crítica feita por Casais Monteiro (1985) e Eduardo Lourenço (2017), que interpretam a heteronímia como “fenômeno literário”. Da mesma forma, aludimos à teoria romanesca de Mikhail Bakhtin nos três volumes que enformam a Teoria do Romance (2015; 2018; 2019), bem como Estética da Criação Verbal (2011) e Problemas da poética de Dostoiévski (2018), para melhor teorizarmos acerca dos cronotopos que sedimentam, no romance polifônico e alteritário, o fenômeno de instâncias autorais aqui discutido. À vista dessas reflexões, emerge a noção de escrita heteronímica do desassossego, forjada no bojo da “escrita do desassossego” (Medeiros, 2017), aliada às experimentações discursivas (Calvino, 1990) e ao "mal-estar" (Freud, 2020). Cumpre destacar que, além dos contributos já elencados, nos valeremos dos estudos de Ana Paula Arnaut (2009) e Carlos Reis (2004), dentre outros pesquisadores da fortuna crítica antuniana, que incitam o pensamento sobre: autoria, memória e guerra colonial. Por fim, com intuito dialógico mais abrangente, discutiremos acerca dos dialogismos entre composição e neobarroquismo que atravessam as obras do lusitano Lobo Antunes, do basco Miguel de Unamuno e da brasileira Juliana Leite.