TU, VOCÊ, OCÊ E CÊ NA COMUNIDADE QUILOMBOLA SERRA DAS VIÚVAS/ ÁGUA BRANCA-AL
Sociolinguística; Variação; Tu, você e cê; Comunidade quilombola Serra das Viúvas.
A presente pesquisa busca traçar o perfil sociolinguístico dos falantes da comunidade quilombola Serra das Viúvas/Água Branca-AL em relação à variação de tu, você, ocê e cê na posição de sujeito na fala dos quilombolas, com o intuito de verificar a frequência de uso das variantes que representam a segunda pessoa do singular. Este estudo visa também observar se existe interferência de fatores sociais e linguísticos na variação; constatar se a relação entre os interlocutores influencia a escolha linguística; e verificar se a metodologia de coleta de dados interfere na captura das variantes tu, você, ocê e cê. Para o desenvolvimento desta pesquisa, utilizamos os pressupostos teóricos e metodológicos da Teoria da Variação e Mudança Linguística (Labov, 2008[1972]), que trata dos usos variáveis da língua e trabalha com a concepção de língua heterogênea, partindo do pressuposto de que a língua não é estática, mas variável, influenciada por fatores de ordem linguística e social. Recorremos também a Teoria do Poder e da Solidariedade (Brown; Gilman (2003 [1960]), que versa sobre o uso dos pronomes de tratamentos, postulando duas características existentes nas sociedades, o poder e a solidariedade, sendo que a forma de tratamento empregada pelo falante é determinada pela relação existente entre os interlocutores em uma dada situação comunicativa. Nos valemos de (Faraco 2017 [1996]) e (Lopes; Duarte 2003) para explicar o processo de mudança linguística enfrentado pelo pronome de tratamento vossa mercê até o pronome pessoal você. Para entender o comportamento linguístico variante de tu com concordância, tu sem concordância, você, ocê e cê no Brasil, recorremos ao mapeamento sociolinguístico realizado (Scherre et al. 2015) e (Scherre; Andrade; Catão 2020-2021). Neste trabalho, utilizamos duas amostras da mesma comunidade de fala, uma coletada no ano de 2016 com a metodologia tradicional de coleta da Sociolinguística Variacionista e outra coletada em 2022 com metodologia de coleta diálogo entre dois informantes. Para obtenção dos resultados, recorremos ao programa computacional GoldVarb X (Sankoff; Tagliamonte; Smith, 2005). Em nosso estudo, primeiramente analisamos a amostra coletada em 2022, realizamos três rodadas para melhor compreender a variação. Dessa forma, após a delimitação da variável dependente tu, você e cê, delimitamos as variáveis independentes para pesquisa, a saber, faixa etária, sexo/gênero, escolaridade, tipo de relação entre os falantes, relações entre sexos, relações entre faixas etárias, paralelismo pronominal e determinação do referente. De acordo com os resultados, a variante mais utilizada pelos quilombolas é você, mas também existe o uso da variante tu sem concordância e cê. Fizemos uma rodada que contemplou as variantes tu e você, nela constatamos que as variáveis condicionantes da alternância foram escolaridade, tipo de relação entre os falantes, sexo/gênero, paralelismo pronominal e relações entre faixas etárias. Na rodada que analisou você e cê, somente a variável tipo de relação entre os falantes foi considerada como estatisticamente significativa para a variação. Em análise da segunda amostra, as variáveis testadas foram sexo/gênero, faixa etária, paralelismo pronominal e determinação do referente. Conforme os resultados, houve poucas realizações das variantes tu, você e cê, entretanto, as ocorrências de você são mais frequentes do que tu e cê, nesta análise nenhuma variável foi considerada como estatisticamente significativa. Por último, realizamos uma análise das metodologias de coletas, entrevista entre documentador e informante e diálogo entre dois informantes, e comprovamos que o modelo adequado para captura das variantes de segunda pessoa do singular é o modelo de entrevista diálogo entre dois informantes.