TRANSGRESSÃO E DESCOBERTA EM ORGIA, OS DIÁRIOS DE TULIO CARELLA
Italo Tulio Carella, intelectual argentino, escritor e professor de teatro, é convidado por Hermilo Borba Filho a dar aulas na escola de Belas Artes da Universidade do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco, no intuito de oxigenar o curso de teatro recém criado, no começo dos anos 1960. Ao mesmo tempo em que a cidade fervilhava intelectual e culturalmente, ela respirava um certo fechamento moral e político, o que fez com que Tulio Carella fosse confundido com um traficante de armas cubano para as Ligas Camponesas, sendo preso e torturado pelo Exército Brasileiro. No seu apartamento no centro da cidade do Recife, o Exército descobre anotações que são seus diários, nos quais relatava, principalmente, os encontros com homens. Convidado a sair da Universidade e deportado informalmente para a Argentina despois da sua prisão, ele lança Orgia, Diário Primeiro, em 1968, período duro da ditadura militar brasileira e também um dos períodos da ditadura militar argentina. Esta pesquisa tenta percorrer esses caminhos, levantando uma discursão da obra como memorialística e/ou ficcional, apreendendo os conceitos de arquivos e memória em literatura, conceitos esses que me guiaram nos labirintos dos arquivos públicos com o objetivo de observar de que modo a transgressão se estabelece, se estrutura e como ela é importante na construção da narrativa e no apagamento de Orgia como obra literária homoerótica. E também mostrar como enxergo essa escrita, dita memorialística, a partir dos achados historiográficos da passagem do autor pela cidade e no pós 1968, correspondendo ao período de seu ostracismo como autor, o que me fez pensar que o assumir da obra como diário tem íntima relação com seu apagamento também como escritor, e que essa transgressão foi o caminho político escolhido por ele, sempre tentando entender como os conceitos de tempo, arquivo, memória e transgressão mobilizam esses pressupostos.
Tulio Carella; Diário; Orgia; Transgressão; Memória.