NARRATIVAS ANCESTRAIS DE AURITHA TABAJARA E ELIANE POTIGUARA: MEMÓRIA, RESISTÊNCIA E POLIFONIA NAS LITERATURAS INDÍGENAS
Literaturas indígenas; Memória; Resistência; Polifonia; Auritha Tabajara; Eliane Potiguara.
Esta dissertação realiza um estudo panorâmico das literaturas de autoria indígena no Brasil. Para tanto, elegemos as obras Coração na aldeia, pés no mundo (2018) e A cura da terra (2015), das escritoras indígenas Auritha Tabajara e Eliane Potiguara, respectivamente, para destacar como as narrativas indígenas configuram novas formas de se observar o próprio indígena na cena literária, seja enquanto personagem, seja na condição autoral. Confronta-se, portanto, a realidade tradicional da literatura brasileira, em que esses sujeitos foram sempre postos à margem, representados como selvagens, bárbaros e atrasados. As obras corpus refletem marcas memoriais e ancestrais, pois partem de um lugar autônomo e singular da trajetória de suas autoras. Auritha Tabajara, em Coração na aldeia, pés no mundo (2018), revela uma narrativa poética em formato de cordel, gênero literário absolutamente relevante na cultura nordestina – região brasileira de onde provém a escritora. Na publicação estudada, acessamos uma autobiografia ficcional em verso popular, que rompe com a proposta canônica de diversas formas: trata-se de uma mulher indígena que produz literatura de cordel e ainda se autoficcionaliza. Eliane Potiguara, por sua vez, autora de A cura da terra (2015), via narrativa ilustrada e contação de histórias, apresenta os malefícios da dominação colonial, ao tempo em que destaca a resistência e a formação identitária, memorial e ancestral da criança indígena. Assim, este é um percurso pelo desenvolvimento das literaturas indígenas – oral e escrita –, que passa, ainda, pela luta das mulheres para escreverem e se autorrepresentarem, em ato que acentua a potência identitária das autoras indígenas aqui estudadas. O referencial teórico utilizado nesta pesquisa é, em grande parte, composto por pesquisadores indígenas – a exemplo de Graça Graúna, Márcia Kambeba e Daniel Munduruku – e não indígenas que apoiam a luta desses povos, a exemplo de Maria Inês de Almeida, Heliene Costa e Janice Thiél. Outros estudiosos, ainda que provenientes do universo eurocêntrico, serão acionados para a composição de um pensamento efetivamente dialógico tais como Mikhail Bakhtin, Walter Benjamin, Paul Zumthor, dentre outros, de forma a tecermos uma arena polifônica de vozes compromissadas com o reconhecimento e a valorização das literaturas dos povos indígenas.