FRANKEN(STEIN)WEENIE: A Reescritura do Gótico por Tim Burton
Tim Burton; Gótico; Cinema; Frankenweenie
Cineasta, escritor, diretor e multiartista, Tim Burton tem construído, em seus filmes, desenhos, poemas narrativos e romance), um projeto narrativo único. Suas fontes de inspiração são as narrativas góticas, fantásticas e os contos de fadas (SOARES; SIMÕES, 2008; NABIS, 2010), com o forte apelo da literatura infantil e juvenil sendo traço evidente em suas criações. Assim, Burton concretiza sua marca autoral, na qual, de modo recorrente, destacam-se aspectos do gótico, que adquire uma nova roupagem ao revisitarem clássicos da literatura e do cinema de horror, partindo de um ponto de vista peculiar: o do imaginário infantil. Com enfoque específico sobre o longa Frankenweenie (2012), este trabalho parte da hipótese de que Burton se apropria de elementos já cristalizados da narrativa gótica, dando-lhes uma nova configuração e gerando, neste processo, efeitos inovadores. Sigo uma linha que acompanha a história da concepção do gótico, especialmente no âmbito da literatura (CUDDON, 1999), observando seus contornos enquanto gênero literário e atentando, também, aos seus elementos e efeitos (GROOM, 2012), para então alcançar a percepção do gótico como um modo literário (CUDDON, 1999 SÁ, 2019). Essas considerações subsidiam a parte analítica do estudo, que se organiza a partir de três enfoques: a figuração do medo individual e coletivo (DELUMEAU, 2009), observada, na diegese, em sua relação com o gótico (LOVECRAFT, 1987) e com distópico (KUMAR, 1987; CLAEYS, 2017); a representação do corpo morto e sua capacidade de gerar o medo da morte no imaginário individual e coletivo (BLOCH, 1995; TUAN, 2005); e, por fim, uma exploração da estética pós-modernista da obra em foco, realizada à luz do conceito de pastiche (COPATI; LAGUARDIA, 2013; FERNANDES; HUTCHEON, 1989; MAGALHÃES, 2018; SALES, 2020), e em associação a dois elementos cinematográficos – a matriz e a mise-en-scène (CORTEZ et al 2006). O presente estudo repensa as reconfigurações contemporâneas do gótico, identificando e refletindo sobre as formas pelas quais a reescritura das narrativas góticas, conforme realizada por Burton, renova tal estética, provocando efeitos singulares, como o despertar da empatia por parte de jovens leitoras e leitores em relação à alteridade, metaforizada, nesta obra, por meio do monstruoso. Finalmente, saliento a contribuição desta dissertação para os estudos alinhados a releituras contemporâneas do gótico; para a fortuna crítica de Tim Burton; e para a área dos estudos de cinema, mais especificamente no campo das animações que se dirigem ao público infanto-juvenil e jovem adulto.