ANÁLISE RETÓRICO-ARGUMENTATIVA DAS PAIXÕES ARISTOTÉLICAS EM AUDIÊNCIAS DE TRIBUNAL DO JÚRI DE ALAGOAS
Estudos retórico-argumentativos. Gêneros discursivos acusação e defesa. Paixões aristotélicas.
Este trabalho se apresenta sob uma perspectiva retórico-argumentativa, em que se objetiva analisar o modo como se manifestam retoricamente as paixões por meio dos gêneros acusação e defesa, em modalidade oral, em audiências de Tribunal do Júri, na cidade de Arapiraca, Alagoas; buscando compreender de que forma os elementos passionais podem ser um recurso utilizado pelos oradores para atingir seus intentos persuasivos nos gêneros em estudo. Para tanto, as análises se embasaram nos postulados teóricos de Aristóteles (Retórica, II, 2011), Ferreira (2010), Mateus (2018), Meyer (1991, 2000), Perelman e Olbrechts-Tyteca (2014) e Reboul (1998), bem como em Marcuschi (1998) e Preti (1998), cujos ensinamentos formam a base sobre a qual se operacionalizaram as transcrições. Assim, a sistematização da Retórica por Aristóteles (384-322 a.C) – com a apresentação das 14 (catorze) paixões, em seu Livro II da Retórica, e o desenvolvimento de uma estrutura de análise dessas paixões a partir de três fundamentos: em que disposição se encontra aquele que sente a paixão, contra quem se sente, e, finalmente, em qual circunstância a paixão se apresenta – acrescida das considerações posteriores de Meyer (1991, 2000)[1], fundamentam o trabalho no que toca à teoria retórica das paixões. Quanto ao corpus, foram selecionadas e transcritas 3 (três) sessões de audiência de Júri popular, em que houve a presença dos gêneros acusação e defesa. Para este trabalho, retiraram-se 6 (seis) fragmentos que serviram às análises. Tais análises foram realizadas com base nos ensinamentos de Leach (2008), que apresenta a pesquisa retórica a partir de um processo alicerçado na teoria da estase (LEACH, 2008). Desse percurso, observou-se a recorrência de paixões como a compaixão, o ódio e o medo, como sendo as principais paixões identificadas nos atos retóricos analisados. Além disso, foi possível verificar uma relação em cadeia entre as paixões, que interagem entre si, construindo uma estrutura argumentativa eminentemente passional. O trabalho prossegue, nesse sentido, com a observação dessas paixões em busca da compreensão do que elas contribuem para a construção persuasiva, analisando-se a Retórica como uma arte de persuadir não por qualquer discurso, mas por um discurso, muitas vezes, patêmico, como parece ser o caso dos discursos explorados nos gêneros em apreço.