O papel da prosódia no processamento do discurso em língua portuguesa: estudo com técnicas experimentais on-line
Prosódia. Narrativas Espontâneas. Segmentação de Eventos
A segmentação de fronteiras é um componente importante para o bom desempenho da compreensão de narrativas assim como de atividades cotidianas também, pois indicam o processamento de informações satisfatório reafirmado pela correlação entre a estrutura da situação externa e a estrutura da representação mental. A prosódia, por sua vez, tem papel elucidativo nesse estudo, pois tem a função de estruturar o fluxo de informações no discurso. Nessa direção, os mecanismos prosódicos estruturantes que atuam no processamento de eventos podem ser revelados a partir de respostas neurais coletadas por meio de técnicas experimentais on-line não-invasivas e seguras e por testes comportamentais (off-line) associados. Este projeto tem o objetivo de identificar e caracterizar marcas linguísticas prosódicas dispostas em fronteiras de eventos em Português, a partir de experimentos on-line e off-line. Para isso, desenvolvemos um experimento piloto de segmentação com o propósito de testar a concordância da segmentação entre examinadores não treinados, a partir de um modelo baseado em eventos. Nesse experimento, submetemos os participantes a narrativas orais espontâneas e pedimos para pressionar uma tecla toda vez que julgassem haver uma fronteira entre as unidades discursivas. Participaram do experimento cerca de 30 sujeitos. As análises estatísticas lançaram mão dos testes modelo linear misto e regressão logística binomial. Constatamos que as fronteiras percebidas pelos ouvintes como sendo proeminentes possuem características prosódicas específicas. Essas características são, resumidamente, uma maior diferença de tom, uma maior diferença de intensidade e de duração entre as sílabas tônicas que lhes são adjacentes. Os resultados apontam para uma necessidade de verificar os efeitos da percepção prosódica no processamento de eventos, com o uso de técnicas on-line de processamento linguístico, como a pupilometria e a eletroencefalografia.