PRONOMES DE SEGUNDA PESSOA DO SINGULAR NA ESCRITA ALAGOANA DO SÉCULO XX: UM ESTUDO DOS PRONOMES OBJETOS EM CARTAS PESSOAIS DO ESCRITOR GRACILIANO RAMOS
Pronome complemento, Segunda Pessoa do Singular, Sociolinguística Histórica, Graciliano Ramos, Escrita Alagoana.
Neste trabalho, analisamos a variação nos pronomes de referência à segunda pessoa do singular na função de complemento verbal em cartas pessoais do século XX, escritas pelo ilustre alagoano Graciliano Ramos, com o objetivo de investigar quais fatores linguísticos e extralinguísticos influenciaram no avanço das formas do paradigma de você e quais se mostraram como contexto de resistência a essas formas e como favorecedoras das estratégias do paradigma de tu. Para isso, analisamos um total de 110 cartas, redigidas entre o período de 1910 a 1952, em correspondência a familiares e a um amigo do escritor. Como aparato teórico e metodológico para a construção da pesquisa, usamos a sociolinguística histórica (ROMAINE, 1982; CONDE SILVESTRE, 2007; HERNÁNDEZ-CAMPOY; CONDE SILVESTRE, 2012) que busca analisar a variação e a mudança linguística ao decorrer do tempo, além de investigar como se dá um processo de variação concreta em determinadas comunidades de fala, grupos, redes sociais e indivíduos (ROMAINE, 1982). As variáveis linguísticas independentes analisadas foram: (i) contexto morfossintático e (ii) subsistema tratamental na posição de sujeito; e as variáveis extralinguísticas: (i) período, (ii) tipo de relação entre os remetentes, (iii) subgênero das cartas e (iiii) interlocutor. Em síntese, observamos que os complementos do paradigma de tu tiveram o maior percentual de uso do período. No entanto, o uso das estratégias de você torna-se bem mais frequente após 1930, assim como o uso das formas nulas, ultrapassando o registro das variantes do paradigma de tu. Esse resultado mostrou que o aumento da frequência dos complementos do paradigma de você coincide com o período de implementação do você como pronome sujeito de segunda pessoa que ocorreu por volta da década de 30 do século XX, reorganizando o quadro pronominal do português brasileiro (RUMEU, 2012; 2019). Com relação às variáveis independentes, concluímos que o uso dos complementos do paradigma de você foi mais favorecido pelo contexto morfossintático dativo, pelas cartas que tem você como sujeito exclusivo, pelas relações assimétricas e pelas cartas de família e de casal. Enquanto as formas do paradigma de tu foram mais favorecidas pelo contexto morfossintático acusativo, pelas missivas que tem tu como sujeito exclusivo, pelas relações simétricas e pelas cartas de amor e de amigo.