Caso Braskem: extrativismo minerador, discurso e relações de poder em Alagoas
Discurso, ideologia, mineração, crimes socioambientais
O presente trabalho tem como seu objeto o discurso da mineração no Brasil, tomando-se como referência a circulação de sentidos em torno do crime socioambiental da empresa Braskem na cidade de Maceió-AL, que, a partir de 2018, vem promovendo a desocupação compulsória e a destruição de quatro bairros residenciais nesta capital. Filiado ao dispositivo teórico e analítico da Análise de Discurso de base materialista (PÊCHEUX, 2014, 2015; ORLANDI, 2006, 2007, 2016, 2020), esta tese busca discutir os efeitos de sentido que são produzidos pelo discurso da megamineração em face do crime socioambiental já referido. Em diálogo com a historiografia do período colonial (GALEANO, 1983), e com a genealogia da mineração na América Latina (ARÁOZ, 2020), este trabalho sustenta que o discurso e as múltiplas práticas extrativistas da megamineração na atualidade são coextensivos e perpetuadores do processo de acumulação primitiva do sistema capitalista (MARX, 2017b), que desde o período colonial vem impondo severas consequências à natureza e à diversas comunidades humanas. Examinando as condições de produção (COURTINE, 2014) do discurso da mineração em Alagoas, essa tese busca descrever a sequência de fatos que resultaram no crime socioambiental a partir de 2018. A partir da descrição e da análise das condições de produção e das situações específicas de enunciação das materialidades significantes que analisamos, este trabalho demonstra como os termos-chave do debate público sobre esse tema estão decididamente marcados pelo assujeitamento pela ideologia capitalista e mineradora. Tendo seu corpus produzido a partir de sequências discursivas de caráter heterogêneo, este trabalho ainda discute como os meios de comunicação de mídia (NECKEL, PFEIFFER, ZOPPI-FONTANA, 2017) e o aparato de comunicação social próprio do setor de megamineração funcionam como aparelhos ideológicos (ALTHUSSER, 1980) decisivos para os processos de interpelação e subjetivação, cuja finalidade é isentar as forças produtivas do capitalismo da violência socioambiental que lhe subjaz.