UMA TV DITA PÚBLICA: os sentidos do discurso oficial de criação da TV Brasil e a prática jornalística
Discurso; Comunicação Pública; Telejornalismo; TV Pública; TV Brasil
No Brasil, a programação das emissoras de televisão tem, em linhas gerais, dois modelos de produção: o comercial e o público. Enquanto os meios com fins lucrativos enxergam os telespectadores apenas como massa consumidora; a TV pública deveria privilegiar a multiplicidade de público e o diálogo com as demandas informativas, educacionais e culturais de cada um deles. A partir desta dicotomia, nossa pesquisa se propõe a analisar o discurso “oficial” de criação da TV Brasil TV, enquanto emissora dita pública do governo federal, e sua práxis na produção de informação jornalística através dos scripts do telejornal Repórter Brasil, no período de 01 a 30 de junho de 2022, ano de eleições para Presidência da República. O estudo é alicerçado nos pressupostos teóricos-metodológicos da Análise do Discurso Francesa de linha pecheutiana (AD), por entendermos ser a melhor ancoragem para a análise dos discursos jurídicos e jornalísticos e seus efeitos de sentido, uma vez que a AD concebe o discurso como a “relação indissociável entre língua, história e ideologia. A materialidade da língua funde-se a materialidade da história e opera nas relações sociais” (FLORÊNCIO, 2009, p.23). Para Pêcheux (1990, p. 79), seria “impossível analisar um discurso como um texto, isto é, como uma sequência linguística fechada sobre si mesma, mas que é necessário referi-lo ao conjunto de discursos possíveis a partir de um estado definido das condições de produção”. No processo de investigação, defendemos que o discurso do Estado de que a TV Brasil é uma emissora pública com fins educativos e culturais mascara o projeto político-ideológico do governo federal em utilizá-la como ferramenta de comunicação à serviço da lógica do capital através do controle social na produção de conteúdo jornalístico no governo Bolsonaro. Para isso, é fundamental o confrontamento do corpus com categorias da AD como Condições de Produção, Interdiscurso, Memória Discursiva, Formação Discursiva e Formação Imaginária. Esse entendimento possibilita a compreensão de como os discursos são constituídos, como se processam os sentidos e qual a relação dos discursos com a realidade em que se produzem, com produzem sentidos e, assim, fazem história, polemizam e transformam as relações sociais.