O NOME PRÓPRIO “CHICO BUARQUE”: O DISCURSO DA RESISTÊNCIA
Chico Buarque. Nome próprio. Efeitos de sentidos. Resistência. Acontecimento discursivo
O Golpe Civil-Militar no Brasil de 1964 constituiu para o país um corte brusco e severo do processo de construção de uma democracia, e com isso produziu o silenciamento de muitas vozes. A partir de 24 de janeiro de 1968 toda produção cultural e artística passa a ser regulada pelo AI-5. Neste contexto, qualquer tipo de manifestação contra o Estado era proibido. Os sentidos foram censurados, silenciados, excluídos para que não movimentassem o óbvio. “Chico Buarque” integrou uma parte da geração de compositores da MPB (Música Popular Brasileira) que abraçou um lugar de fala mais popular: as canções passaram a ganhar corpo de uma política engajada, no seio dos movimentos universitários. A voz política de “Chico Buarque” demonstrava um elemento revolucionário na produção artística produzida naquele momento histórico. Chico cria e produz música de resistência, na tentativa de driblar a censura quando muda de nome, utilizando um heterônimo: ‘Julinho da Adelaide’. Com essa estratégia algumas letras de canções passaram pela censura sem maiores problemas. As músicas de “Chico Buarque” eram proibidas somente porque levavam a sua assinatura. Na atualidade suas músicas foram resgatadas e atualizadas na memória discursiva no palco das últimas disputas eleitorais brasileiras. Identifica-se a memória discursiva causando um movimento de sentidos próprio à produção de “Chico Buarque”. Nesta tese de doutorado o objetivo principal é demonstrar como o nome próprio “Chico Buarque” constitui-se como um discurso da resistência que opera na atualidade política do Brasil. O corpus desta tese tem um recorte preciso: canções da época da ditadura civil-militar brasileira. A fundamentação teórica-metodológica que baliza este trabalho é a Análise de Discurso Pêcheutiana, com sustentação no materialismo histórico e articulação com a psicanálise lacaniana. “Chico Buarque” cantou a resistência ontem. “Chico Buarque” canta a resistência hoje porque sua música é para ser lida na atualidade, por ser expressão de um protesto que se renova no Brasil dos dias atuais, por ser um acontecimento discursivo. Michel Pêcheux nos ensina que o discurso da resistência é resultante do processo de dominação na sociedade de classes. Onde há dominação, a resistência é ipso facto. As canções de Chico Buarque ressurgem como músicas de protesto e resistência para marcar um momento histórico de luta, de recusa ao discurso conservador. Assim como Marx nos possibilita pensar que a revivescência das músicas na atualidade seriam resgatar, pegar emprestado um grito de guerra e atualizar um passado.