Neopronomes e identidade: influências linguísticas e não-linguísticas na integração de identidades nâo-binárias na gramática do português
gênero gramatical; neopronomes; referência identitária.
A presente pesquisa objetiva verificar e analisar os usos de uma terceira marca de gênero no português brasileiro (doravante PB), presente na utilização de neopronomes, como em elu/ile/ilu/el, e na ampliação de marcas distintivas de gênero na língua, tal como o uso do -e no final de palavras. Para tanto, utiliza-se da rede social Twitter, veículo marcado por um uso da língua muito próxima à oralidade e por uma importante reverberação de problemáticas correntes na sociedade, para a exploração dos dados. Nesse sentido, destaca-se que o gênero gramatical tem ganhado a atenção nas pautas sociais, bem como no campo teórico, dada a sua frequente associação com o sexo dos seres, ou mais ainda, pela referenciação linguística das identidades dos sujeitos por meio de marcas distintivas do gênero gramatical. Assim, o tema forma-se como uma nova problemática para os estudos linguísticos, havendo ainda poucos trabalhos voltados ao seu estudo. Com base nisso, são fundamentais para o desenvolvimento desta pesquisa os trabalhos teóricos acerca da categoria de gênero gramatical desenvolvidos por Camara Jr. (1970), Rocha (1998), Corbett (1991), Carvalho (2020), como também os estudos gramaticais de Bechara (1997;2010), Neves (2000), Perini (2005), Castilho (2010), Cunha e Cintra (2017). Destaca-se ainda os estudos de Benveniste (1995) sobre a classe dos pronomes, com intuito de compreender a implementação dos neopronomes e sua relação com um terceiro gênero na língua. Além dos trabalhos de Hall (2006) e Butler (2022) que permeiam as questões de identidade e de gênero dos sujeitos, atrelando, dessa forma, padrões sociais à realização da língua.