CONCEIÇÃO EVARISTO E CHIMAMANDA ADICHIE: INCURSÕES DECOLONIAIS E ECOFEMINISTAS EM
BECOS DA MEMÓRIA E HIBISCO ROXO
Colonialidade. Decolonialidade. Ecofeminismo. Conceição Evaristo. Chimamanda Ngozi Adichie.
RESUMO
Esta tese tem por objetivo o estudo comparativo de dois romances contemporâneos – Becos da Memória de Conceição Evaristo e Hibisco Roxo de Chimamanda Ngozi Adichie, publicados primeiramente em 2006 e em 2003, respectivamente. O estudo tem sustentação teórica na perspectiva da colonialidade/decolonialidade e na ecocrítica feminista. Utilizo a metáfora “ferida colonial”, termo de Gloria Anzaldúa (1987), para abordar a opressão legitimada e naturalizada contra mulheres afrodescendentes, via colonialidade de gênero. Também abordo a colonialidade de raça, gerada pela colonialidade do poder, matriz que implantou um sistema de dominação de povos, baseado na premissa de que existem culturas hegemônicas e que se espalhou no mundo ocidental, tendo início com o colonialismo. Divido este trabalho em quatro capítulos, sendo o primeiro introdutório, com considerações iniciais sobre os romances em articulação com embasamentos teóricos. O segundo capítulo analisa os dois romances a partir da perspectiva da colonialidade/decolonialidade, considerando a colonialidade do poder, i.e, relações coloniais de poder, com enfoque nas categorias raça e gênero, segundo Cláudia de Lima Costa (2010, 2012, 204), Luciana Deplagne (2020), Gloria Anzaldúa (1987, 2000, 2015) e Maria Lugones (2014, 2020), entre outros textos. Por uma questão metodológica, divido o capítulo em três partes: o poder e a raça como “feridas coloniais”; o gênero como “ferida colonial”; e decolonialidade como cura da ferida. O terceiro capítulo tem por objetivo discutir questões relativas ao ecofeminismo e apresentar minha análise literária dos romances Hibisco roxo e Becos da Memória a partir dessa perspectiva, com embasamento na transcorporalidade de Stacy Alaimo (2000, 2010, 2017), em estudos ecocríticos feministas de Izabel Brandão (1997, 1999, 2003, 2007, 2017, 2019, 2020) e de Greta Gaard (1998, 2011, 2017a, 2017b), entre outras autoras. Divido o terceiro capítulo em três partes: flores e árvores; àgua; e vento, cujas imagens em conexão com as personagens têm como base a fenomenologia bachelardiana. O quarto capítulo tem por objetivo traçar paralelos entre os romances, vinculando as discussões a partir da perspectiva da diáspora, considerando as referências culturais das narrativas. Em Becos da Memória, o processo de desfavelamento é comparado ao movimento diaspórico, uma vez que as famílias são forçadas a deixarem suas casas. Em Hibisco Roxo, também há referência a migrações por conta do colonialismo. Esta tese, assim, contribui para a fortuna crítica de duas autoras afrodescendentes contemporâneas que, embora residam em locais diferentes, apresentam pontos em comum nas narrativas. A literatura nos ajuda a rever conceitos, relativizar, pensar criticamente e rejeitar conclusões definitivas. À luz dessas questões, o trabalho tem relevância literária e cultural.