Análise multi-ômica da microbiota intestinal de ratos com epilepsia do lobo temporal induzida por lítio-pilocarpina
eixo intestino-cérebro; microbiota; metaboloma; epilepsia
O trato gastrointestinal (TGI) humano é colonizado por trilhões de micro-organismos que se comunicam com o sistema nervoso central a partir da transmissão bidirecional de sinais através do eixo microbiota-intestino-cérebro. Os produtos secretados pela microbiota intestinal estimulam o sistema nervoso central, e, por conseguinte, estão associados a diferentes doenças neurológicas, incluindo a epilepsia. Desta forma, o presente estudo teve como objetivo avaliar alterações na composição da microbiota intestinal e do seu metaboloma em ratos submetidos à epilepsia do lobo temporal, a partir de uma abordagem multi-ômica. Para isto, 6 ratos machos Wistar foram submetidos ao Status Epilepticus (SE) induzido por lítio-pilocarpina e monitorados durante 60 dias. Cada animal teve o material fecal coletado antes da indução do SE (grupo pré-ELT) e após a emergência das crises espontâneas (grupo pós-ELT). Ratos Naïve (n = 6) foram utilizados como controle para os mesmos pontos de coletas (Naïve t1 e Naïve t2). O sequenciamento do gene 16S rRNA acoplado à análise de bioinformática revelou uma mudança taxonômica e composicional, em ratos epilépticos. No grupo pós-ELT, a riqueza das espécies (índice Chao1) foi significativamente menor, e a análise da diversidade beta revelou aglomerações separadas das de pré-ELT. A análise da abundância taxonômica revelou um aumento significativo do filo Desulfobacterota e uma diminuição de Patescibacteria. A análise DESEq2 e LEfSe resultou em 18 gêneros significativamente enriquecidos entre os grupos pós-ELT e pré-ELT. A análise de ressonância magnética nuclear identificou 9 classes de metabolitos nos grupos pré e pós_ELT. Das 9 classes identificadas, 6 se relacionaram positivamente com o estado epiléptico: ácido acético, ácido propiônico, ácido glutâmico, ácido butírico, alanina e glicina. A análise de correlação microbiota-metaboloma mostrou que os gêneros diferentemente abundantes em ratos pós-ELT estão associados aos metabólitos alterados, especialmente os pró-inflamatórios Desulfovibrio e Marvybiatria, que foram enriquecidos em animais epilépticos e positivamente correlacionados com neurotransmissores excitatórios. Por conseguinte, os nossos dados sugerem que a disbiose bacteriana associada à epilepsia contribui para um estado convulsivo, aumentando a inflamação crônica, o desequilíbrio excitatório-inibitório, e/ou uma perturbação metabólica.