A PERSEVERANÇA E O SILÊNCIO: DISJUNÇÃO NAS NARRATIVAS SOBRE RELIGIÕES AFRO BRASILEIRAS EM
MACEIÓ
A presença negra em Alagoas, especialmente associada às religiões afro-brasileiras, é hoje marcada por um paradigma teórico que a representa como experiência de silêncio, recuo ou derrota, durante grande parte do século XX, em decorrência direta do evento conhecido como Quebra de Xangô, ocorrido nesse Estado em 1912. Rastreia-se a construção desseparadigma, sua fundação, atualização e reiteração nos discursos públicos elaborados em diferentes épocas daquele século, e facilmente se nota hoje sua repercussão na academia e na experiência popular que se aproxima do tema. Com base na experiência pessoal de longa vivência em comunidades de candomblé, recorro a relatos comunitários, mas também a registros documentais amplos, e não menos à crítica das narrativas intelectuais referidaspara demonstrar, num exercício de Sociologia do Conhecimento e de narrativas, a impropriedade de tal paradigma: Desde Alfredo Brandão, descendendo por certa corrente intelectual local, a representação da experiência do negro em Alagoas se funda na fragilidade de argumentos e teorias científicas ultrapassadas, ou no desinteresse por reconhecer seus expedientes legítimos e insistentemente presentes e dinâmicos. Ademais, a eloquência da agência negra em Maceió se faz gritante nos registros documentais, explicitando as mediações diversas que permitiram, nesse longo processo, a expansão de sua afirmação no espaço público.
Religiões afro brasileiras; Alagoas; Narrativas.