“NÃO HÁ COUZA QUE MAIS DANIFIQUE OS HOMENS QUE A AMBIÇÃO E SOBERBA”
As revoltas em Angola sob a administração ultramarina portuguesa pós-Restauração (1640-1667).
No Portugal recém-restaurado de 1640, o monarca brigantino se empenhava em validar sua soberania sobre o reino e suas preciosas conquistas além-mar. Se desprender das amarras castelhanas, no entanto, configurava apenas uma dentre as diversas barreiras postas à Coroa portuguesa. Nas terras angolanas, os invasores flamengos chegaram causando alvoroço no sertão, desfazendo e/ou rearranjando alianças, provocando revoltas entre sobas e agentes régios e ameaçando o funcionamento do sistema comercial atlântico, tirando do controle lusitano uma feitoria responsável por uma massiva exportação de mão-de-obra escrava. Para além do prejuízo à Fazenda Real, o cenário espiritual também estava abalado. Sem o reconhecimento da Santa Sé ao novo Rei, Angola viu sua diocese carente de bispo e os jesuítas viam sua influência religiosa sobre os locais ameaçada pela chegada das missões capuchinhas e carmelitas. Estando Angola reconquistada dos holandeses, os governos que se seguiram adotaram uma política agressiva de interiorização, promovendo guerras com a finalidade de captação de cativos destinados majoritariamente para o Brasil. Essa pesquisa analisa as estratégias empregadas na legitimação da soberania portuguesa em Angola entre 1640 e 1667, frente a tantos conflitos fomentados pelos diversos sujeitos que compunham o território angolano, buscando compreender se e como a Coroa conseguiu controlar as revoltas locais, submeter os sobados do sertão e expandir seu domínio militar e comercial no interior angolano num contexto de instabilidade política para o império português.
Angola, revoltas, comércio de escravos, administração portuguesa, século XVII.