Entre mulatas e moreninhas: constituição identitária e processos de autoafirmação de mulheres negras nas redes sociais.
O presente trabalho tem o objetivo de compreender os processos de reconhecimento e autoafirmação das negritudes de jovens mulheres negras alagoanas que utilizam o Instagram para abordar assuntos relacionados as suas identidades. Esse aplicativo de mídia social é pensado e entendido enquanto um dispositivo de difusão e articulação de vozes e de escritas que ecoam através da internet, alcançando pessoas e chegando em espaços que nem sempre o discurso acadêmico consegue chegar. Para isso, a pesquisa será embasada pelas teorias feministas subalternas, considerando o caráter não hegemônico e não universal do feminismo e localizando geopoliticamente uma pesquisada situada ao sul global, num país terceiro-mundista, no nordeste brasileiro e no estado de Alagoas. Como complemento e suplemento do arcabouço teórico que orienta o projeto, as teorias e práticas decoloniais serão utilizadas no intuito de fornecer solo fértil para se pensar em como o projeto moderno/colonial através de estratégias de dominação e violência, moldou/dilacerou vidas e subjetividades de sujeitas(os) negras(os) a ponto de fazer com que estas(es) se afastassem ou negassem completamente suas negritudes. Em contrapartida, é a partir do reconhecimento e negação da colonialidade que se pode pensar na subversão de estereótipos e preconceitos relacionados ao gênero e raça. Os objetivos específicos debruçam-se sobre a história de vida dessas mulheres e das experiências subjetivadas por elas desde antes do Instagram como também a partir dele. Desse modo, pretende-se identificar e problematizar a intersecção dos marcadores sociais raça, classe e gênero nas experiências trazidas, bem como compreender de que forma as ferramentas disponíveis no Instagram são utilizadas por elas para elucidar as pautas de gênero e identidade. A pesquisa é de caráter qualitativo e serão realizadas entrevistas semiestruturas em pelo menos oito entrevistadas. As entrevistas serão gravadas, transcritas integralmente e posteriormente analisadas a partir da análise do discurso contra-hegemônica baseada principalmente pelo referencial teórico da autora bell hooks. Esse tipo de análise consiste em criar um espaço que proporcione o “ouvir sem dominar”. Essa perspectiva não se propõe conquistar a narrativa como um todo, mas sim conhecer e elucidar seus fragmentos. Estes são entendidos enquanto falas contra-hegemônicas que se opõem à língua hegemônica-opressora e criam possibilidades de libertação para as(os) subjugadas(os).
Feminismos subalternos; Redes Sociais; Interseccionalidade; Decolonialidade; Psicologia social