Cultura E Brincar Com Crianças De Maceió: Um Estudo A Partir De Conceitos
Winnicottianos
Infância. Brincar. Oficinas Lúdicas. Cultura. Winnicott.
A ideia de infância deste trabalho baseia-se no sujeito da criatividade e da
potencialidade, e apoia-se na noção de criança como sujeito ativo e real. Donald
Winnicott considera a brincadeira como fundamental e constituinte da infância e
apresenta o brincar como facilitador do desenvolvimento, da comunicação e das
relações sociais. Assim, com base na teoria psicanalítica de Winnicott, esse estudo teve
como objetivo geral investigar e analisar a relação entre cultura e o brincar infantis. E
como objetivos específicos discutir, refletir e analisar a cultura expressa no brincar e nas
brincadeiras de crianças residentes em uma comunidade lagunar. Esta pesquisa foi
aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Alagoas. Trata-se de uma
pesquisa-ação de abordagem qualitativa, que ocorreu em uma creche escola
filantrópica, e teve como participantes 20 crianças com idades entre 5 e 6 anos. Foram
realizadas seis oficinas lúdicas, e nelas foram abordadas as seguintes temáticas:
brincar, brincadeiras, amizade, família, lugar onde vivem, cultura e criatividade. Nessas
oficinas, existiram momentos lúdicos e fez-se uso de diários de campo e do
procedimento de Desenho-Estória com Tema. Para análise do material coletado, utilizou-
se a técnica de Análise de Conteúdo. Como resultados, foi possível observar uma noção
ampliada de família, com a presença de parentes para além do núcleo familiar, com a
presença de pai, mãe, filhos, irmãos, avós, primos, amigos e animais de estimação.
Perceberam-se também questões raciais, econômicas e de gênero. Além disso, a
presença de características relacionadas à comunidade, como a forte presença da
lagoa, se fizeram presentes durante as oficinas e as crianças mostraram criatividade nos
momentos de brincadeira. Os dados possibilitaram a elaboração de quatro categorias
temáticas, foram elas: 1. Família, com questões relacionadas à relações endógenas
integradoras, de proteção, agressividade e conflito, assim como figuras da família
nuclear e extensa, questões de gênero, raça e religião; 2. Artes, na qual foram refletidas
questões acerca de música, cinema, criação e literatura; 3. Contexto local, discutiu-se
acerca dos ambientes comunitários, relações exógenas, agressividade/violência, religião
e a presença da natureza e de animais; e 4. Espaço de pesquisa acolhedor, refletiu-se
acerca da representação das oficinas como acolhedoras, assim como das possibilidades
criativas e das relações exógenas. Diante das discussões entre os dados e a teoria
adotada como base para essa pesquisa, pode-se concluir que o brincar criativo pode
ocasionar uma subversão de regras e papéis socialmente impostos, assim como a
elaboração e o contato com as mais diversas experiências culturais. De acordo com a
teoria de Winnicott, os resultados apontaram para a cultura como algo que não é
estático, sendo uma relação de constituição mútua entre os indivíduos e a cultura em
que se encontram, conforme demonstrado nas possibilidades criativas observadas no
brincar infantil. a brincadeira seria uma forma de entrada na cultura, um fator de
assimilação dos elementos culturais, visto que a prática lúdica permite a apropriação de
códigos culturais, e também apresenta importância crucial no processo de socialização.
Aponta-se também a importância que a família tem, não só para o desenvolvimento, mas
para o contato com objetos da cultura. Observou-se que o brincar como forma de
comunicação sustenta-se no método para além da clínica-tradicional e o respeito ao
espaço e falas das crianças se mostrou crucial para o bom desenvolvimento e resultado
de intervenção das oficinas.