Ditadura Civil-Militar brasileira: rastros, restos e testemunho
Ditadura. Testemunho. Esquecimento.
O presente trabalho busca investigar o que resta da ditadura civil-militar brasileira. O fim da ditadura foi marcado por um Projeto de Lei de Anistia que impossibilitou uma investigação jurídica e a produção de espaços para que as vítimas pudessem falar sobre o que viveram e sofreram. Partimos da hipótese de que essa impossibilidade trouxe consequências para o modo com que o país se organizou pós-ditadura, de tal forma que parte da sociedade nega os abusos cometidos pelo regime e pede por seu retorno. Diferentemente do que aconteceu aqui, a Alemanha pós-guerra realizou uma transição jurídica que foi marcada pela condenação de diversos agentes do comando nazista, possibilitando às vítimas sobreviventes não só a indenização, mas também espaços de memória e fala. Ainda assim, há teses negacionistas sobre o que ocorreu durante o regime nazista, e um desejo de esquecimento dos fatos. Com ou sem tratamento jurídico, algo ainda resta. Desse modo, foi possível inferir que o tribunal não encerra o trauma, e que o que resta da ditadura no Brasil não depende apenas da ausência de um tribunal. Desse modo, utilizamos o testemunho para buscar localizar o que resta da ditadura civil- militar no Brasil, pois o testemunho acolhe aquilo que silencia, aquilo que é impossível de dizer. O testemunho de Flávio Tavares, no livro Memórias do Esquecimento, nos ajuda a apontar para como há um retorno de certa estética da moral, que possibilita fazer da violência uma política de Estado. A partir disso, apontamos que o que resta da ditadura no Brasil é esse modelo de moralidade que reproduz uma lógica de guerra, uma governabilidade de morte e de desaparecimento.