COLEÇÃO PERSEVERANÇA: UMA ETNOGRAFIA DA MEDIAÇÃO NO PROCESSO DE PATRIMONIALIZAÇÃO
Coleção Perseverança; referência cultural; patrimonialização; mediação; Grupo de Trabalho.
A Coleção Perseverança compreende mais de 200 objetos sagrados roubados de terreiros alagoanos no violento episódio de perseguição religiosa conhecido como “Quebra de Xangô”, ocorrido em Maceió e adjacências em 1912. Exatamente um século depois foi formalizado o pedido para seu tombamento junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), instituição da qual faço parte enquanto servidor da área técnica. A presente dissertação resulta da proposta de etnografar esse processo de reconhecimento da Coleção Perseverança enquanto Patrimônio Cultural do Brasil. Mobilizando a noção de referência cultural, o objetivo geral foi construir e qualificar o processo e mediação e interlocução entre a instrução de tombamento e povos de terreiro alagoanos. Os objetivos específicos compreenderam: 1) situar o tombamento no contexto da política patrimonial do IPHAN; 2) acompanhar a trajetória da Perseverança enquanto coleção museal e qualificar as narrativas produzidas em torno de seus modos de exposição; 3) descrever e cotejar a construção conjunta de estratégias de interlocução e mediação colocadas em prática na instrução de tombamento conduzida pelo IPHAN. No percurso metodológico da prática etnográfica, intercalei pesquisa documental e bibliográfica para qualificar as narrativas produzidas ao longo da trajetória das peças e ações de campo principalmente por meio da formalização e dos encontros do Grupo de Trabalho para o tombamento da Coleção Perseverança, além da participação em mobilizações sociais de religiosos/as e de algumas entrevistas compreensivas. A partir do tombamento da Coleção Perseverança em Alagoas, procurei discutir a interface da política patrimonial brasileira junto a grupos/comunidades em processos de reconhecimento de suas referências culturais enquanto Patrimônio Cultural do Brasil.