O DIÁLOGO ENTRE POESIA E PENSAMENTO: A LINGUAGEM COMO
CLAREIRA DO SER EM HEIDEGGER E RENÉ CHAR
Alétheia. Abertura. Poesia. Linguagem. Verdade.
O presente trabalho está dividido em duas partes principais: 1) compreender a essência
da poesia e sua localidade no todo das artes a partir do pensamento de Martin Heidegger
2) estabelecer a conversação entre poesia e pensamento através do diálogo entre
Heidegger e René Char. Heidegger diz que o modo de ser da obra de arte é responsável
por pôr a verdade do ser, pois através dela a via das referências históricas de um povo é
aberta. A poesia (Dichtung), por se manifestar na linguagem (Sprache), permite a
abertura do ser de maneira inaugural, tendo em vista que é na linguagem que o
acontecimento apropriador (Ereignis) surge como testemunho; já nas outras
manifestações artísticas a abertura de ser conduzida à linguagem. Heidegger pensa a
verdade a partir da palavra grega (Alétheia), a saber, o desencobrimento do ente, isto é,
a clareira (Lichtung) que desencobre o ser no tempo. Se através da linguagem a clareira
do ser surge, utilizaremos a poesia de René Char para demonstrar como é produzido
esse acontecimento. O diálogo entre Char e Heidegger justifica-se a partir de
tematizações em comum de suas sobras, por exemplo: (a) a noção de abertura como
elemento constitutivo da compreensão; (b) a linguagem é clareira do ser; (c) ambos
criticam a técnica moderna e a era da calculabilidade que marca nossa época de mundo.
Desses pontos em comum extraímos a possibilidade de conversação entre os autores,
pois ela permitirá a entrada na relação dichten-dinken pensada por Heidegger. Enquanto
Char acena para o desconhecido que a linguagem poética abre, contrariando a época do
cálculo e do experimentável que estamos submersos; Heidegger, ao questionar a morada
do ser, permite que o ser manifeste-se como pensamento, arrastando o pensamento para
a superação da calculabilidade da existência.