A construção do "Canal do Sertão Alagoano" impactou a agricultura do semiárido local? Uma análise da expansão da agricultura irrigada nas áreas beneficiadas pela obra hídrica.
Levantamento de áreas irrigadas; Cobertura vegetal; Recursos hídricos; LULC; Random Forest.
Grandes obras de transposição de águas visam aumentar a segurança hídrica e gerar desenvolvimento socioeconômico em regiões semiáridas. Com o fornecimento de água para fomentar o estabelecimento de empreendimentos produtivos, com destaque para promover a agricultura irrigada. O Canal do Sertão Alagoano foi projetado para que 75% de seu volume de água atenda a agricultura. Com isso, o objetivo deste trabalho é avaliar as mudanças ocorridas na agricultura irrigada nas áreas já beneficiadas pela construção do canal. A pesquisa analisou as mudanças de uso e cobertura do solo (LULC) em uma área de 1.154 km² (115.493 ha), situada entre os municípios de Delmiro Gouveia e São José da Tapera, já beneficiada pelo Canal do Sertão Alagoano. A área corresponde a uma faixa de terra com 10 km de largura (5 km para cada lado da margem do canal) ao longo dos 123 km de canal construído. Foram utilizados dois métodos para gerar a classificação de LULC. O primeiro método utilizou os dados de LULC já processados pela plataforma MapBiomas (2006-2022). O segundo método baseou-se na classificação de LULC por meio do modelo Random Forest (2016-2022). Visitas de campo aos municípios de Delmiro Gouveia, Pariconha, Água Branca, Inhapi e São José da Tapera, permitiram validar o desempenho do modelo na identificação de áreas de agricultura irrigada. Durante essas visitas, foram realizadas entrevistas com produtores da região, com o objetivo de compreender a dinâmica da irrigação e avaliar o impacto do Canal do Sertão na produção agrícola do sertão alagoano. Os dados do MapBiomas apresentaram um índice Kappa acima de 90% para as classes de floresta, pastagem natural, áreas não vegetadas, corpos hídricos e formação natural não vegetal. Contudo, esses dados mostraram baixa precisão para a classe de agricultura na região semiárida alagoana. Por outro lado, o modelo Random Forest apresentou alta acurácia na classificação de LULC. As visitas de campo mostraram algumas limitações do Random Forest. Os resultados indicaram um crescimento significativo das áreas de agricultura irrigada nas regiões beneficiadas pelo Canal do Sertão. Em 2016, a área de agricultura irrigada era de 176 ha, conforme as análises do Random Forest. Em 2022, essa área aumentou para 2.111 ha, representando um crescimento de 1.099% em apenas seis anos evidenciado. Entre 2014 e 2018, foram solicitadas 49 outorgas para utilização de água do canal. Nos cinco anos seguintes, de 2019 a 2023, o número de solicitações aumentou significativamente, totalizando 772 pedidos de outorga. Esses dados dos números de outorgas da SEMARH corroboram com o aumento da área irrigada constatado usando o modelo Random Forest. O Random Forest apresentou alta precisão na identificação da agricultura irrigada, embora com limitações em áreas de baixada. Com base nos dados do modelo, da SEMARH e em visitas de campo, observou-se um crescimento da agricultura irrigada entre 2016 e 2022. Espera-se que a conclusão das obras do Canal do Sertão impulsione ainda mais a agricultura local, sendo necessário o apoio de políticas públicas para garantir a sustentabilidade e o uso eficiente dos recursos hídricos.